sábado, 26 de outubro de 2024

Sobre o Tempo e suas mentiras, ou sobre Ação e Consequência

Série "Poesias e Devaneios", Nº 128


Assim, te proponho, simples raciocínio, que te faça buscar outras formas de enxergar!

Nos teus olhos, tão lindos e belos, assim como és bela sua humildade, que é o que te mais falta.

Muito se propôs para entender a dor, e todas Sombra que nos circunda.

E supliquemos que cada um seja o que é, mas sobretudo não lhes falte a verdade.

Que seja sempre ministro de palavra e sindicante de boa-fé

Tal qual o topo, onde muito se observa os gigantes, e muito se inveja os fortes.

Me prosto em um vazio, que não se preenche de tanta coisa além de letras.

E ainda que digas sobre resiliência, algo sobre estoicismo ou frases soltas de Nietzsche

Eu lhe redarguo com mais franqueza, sendo fático e um tanto austero:

Que a vida não faz sentido! E o Tempo aqui nada pode curar!

Tal como bem disse, um dia disse o grande Shakespeare.:

"Sobre tua beleza então questiono, que há de sofrer do Tempo a dura prova"

E sobre minha aura eu mantenho, que há sim de ser o açoite de minhas escolhas.

De forma que não há culpados incorpóreos, que possam ser apontados.

Não há dedos para serem apontados, além de minha infinita arrogância.

Que hoje me é servida assada, em um delicioso banquete de consequências.

E não há de se dizer, em culpar Deus ou praguejar contra o Destino.

Pois a flecha do Tempo é ríspida e sagaz!

E nada de falar da cura, ou que realmente o "Tempo Cura"

Pois muitas ruínas hoje jazem assim, na falsa crença da cura indelével e polivalente do Tempo!

E que Ele por si só é carrasco da vida e algoz do viço.

Sem, contudo, jamais sentir, de si mesmo, pena!

Pois jamais vi algo selvagem sentir pena de si mesmo!

Um pássaro viverá uma vida plena, e cairá morto de um galho um dia!

E sem jamais um segundo sequer ter sentido pena de si mesmo!


"...Quando a hora dobra em triste e tardo toque
E em noite horrenda vejo escoar-se o dia..."


sábado, 19 de outubro de 2024

Bem vindo ao Deserto do Mundo Real!

Série "Reflexões Pessoais", Nº 36

Não se edifica um castelo sobre um solo arenoso. Uma verdade tão antiga quanto a própria humanidade. Muitas vezes, na pressa de alcançar a felicidade, nos iludimos com o que parece ser solidez, mas não passa de areia fina que cede ao primeiro vento. A sensação de euforia, aquela alegria que sentimos em certos momentos, por mais intensa que seja, pode ser construída sobre percepções distorcidas do que nos cerca. O brilho dos dias bons, quando iluminado por expectativas irrealistas, pode mascarar o fato de que estamos depositando nossas esperanças em bases frágeis.

Toda aquela felicidade, por mais radiante que fosse, era ilusória. Uma falsa percepção do meio circundante. Acreditamos estar vivendo um momento sólido e seguro, mas, na verdade, estávamos sobre o precipício da desilusão. Não era a vida nos pregando uma peça, nem uma "maré de azar" nos atingindo, mas a dura realidade do mundo, o Deserto do Mundo real, onde as condições são implacáveis e as recompensas só vêm para aqueles que constroem suas vidas com paciência e sobre fundamentos firmes.

Agora, reclamar de Deus, amaldiçoar o Universo ou praguejar contra o Destino não adianta. Essas respostas são apenas tentativas vãs de desviar a responsabilidade de onde realmente deve estar: em nós mesmos. O mundo não se ajusta aos nossos desejos e vontades, e é no enfrentamento desse deserto que aprendemos que a vida não é uma sucessão de golpes de sorte ou azar, mas uma teia complexa de escolhas, renúncias e esforços.

O verdadeiro aprendizado vem quando aceitamos que a vida não é perfeita, que o solo é árido muitas vezes, e que construir algo duradouro exige consciência e trabalho. As tempestades, sejam emocionais ou externas, vão passar. E, quando passam, nos deixam a oportunidade de recomeçar – não sobre areia, mas sobre rocha firme.

No entanto, mesmo com todo o esforço para construir sobre bases sólidas, a verdade amarga é que o Deserto do Mundo real não se curva a nossos ideais ou sonhos. Não importa o quanto tentemos ser cuidadosos, o quanto planejemos com precisão, há forças maiores que agem fora de nosso controle, corroendo lentamente até os alicerces mais firmes. A areia se infiltra, as rachaduras aparecem, e por mais que lutemos, às vezes é simplesmente impossível manter tudo de pé. O castelo desmorona, não por falta de tentativa, mas porque o mundo, em sua essência, é imprevisível e implacável.

É difícil aceitar que, apesar de todo o empenho, felicidade duradoura é uma promessa distante, um ideal inalcançável para muitos. O que resta, após tantas quedas, não é um novo começo otimista, mas a aceitação de que o solo em que vivemos raramente é firme o suficiente para sustentar nossos maiores desejos. E talvez a verdadeira lição não seja sobre construir melhor ou mais forte, mas sim sobre reconhecer que, em certos momentos, tudo o que podemos fazer é observar em silêncio enquanto as paredes que ergueremos com tanto esforço caem diante de nós.


"A solução está em não desejar nada, não exigir nada, não esperara nada!"

sábado, 12 de outubro de 2024

Becos Escuros

Série "Poesias e Devaneios", Nº 127

As ruas gritam nas calçadas, 
Vozes mudas, mas sombrias, 
E os ouvidos, já cansados, 
Não desejam suas agonias.  

No silêncio que consome, 
O  vento leva segredos, 
E nas esquinas do passado, 
Mora o eco dos nossos medos.  

Asfalto guarda histórias, 
De passos que já se foram,
Mas no corredor das noites,
As sombras ainda imploram.  

Dúvida se faz viva,
Escuros becos da mente,
Enquanto o medo se agita,
Esquinas do inconsciente. 

No meio dessa estrada,
Onde o tempo já se esqueceu,
Cidade fala em códigos,
Que o coração não leu.  



"E nas esquinas do passado, 
Mora o eco dos nossos medos."  



sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Pessimismo Realista

Série "Reflexões Pessoais", Nº 35

Quando tudo se torna previsível, você deixa de se surpreender com o mundo ao redor. A vida, que antes parecia cheia de possibilidades e surpresas, vai perdendo sua cor, se transformando em um ciclo repetitivo e mecânico. As pessoas, as situações, as reações — tudo começa a seguir um padrão tão óbvio que qualquer ilusão de novidade ou emoção se dissolve.

No início, talvez você tente lutar contra isso. Espera que algo mude, que um evento inesperado rompa essa linha reta que se estende à sua frente. Mas, com o tempo, percebe que essa espera é inútil. As pessoas continuam sendo previsíveis em seus interesses mesquinhos, as instituições falham da mesma forma, os relacionamentos são cada vez mais rasos e vazios, e os dias seguem a rotina opressiva. Você não espera mais pelo inusitado, pelo improvável, porque aprendeu que a vida não é um filme com reviravoltas dramáticas. A realidade é outra, pois NÃO há "deus ex machina"!

Esse senso de previsibilidade não é uma escolha. Ele vem com o tempo, com a experiência. É uma constatação amarga, mas inevitável, de que as coisas não vão mudar tanto quanto você imaginava. E quando se dá conta disso, a frustração inicial dá lugar a um cansaço. Não é cansaço físico, mas mental, emocional. Um esgotamento que vem da falta de expectativa. Afinal, como manter o entusiasmo se o fim da história já está escrito, ainda que você não conheça todos os detalhes?

O pessimismo surge não como uma visão derrotista, mas como uma forma de proteção. De que adianta esperar por algo diferente se tudo sempre segue o mesmo curso? 

Se trata de entender que as emoções, as surpresas e o brilho do inesperado se tornaram raros. O ser humano, com seus defeitos e limitações, prova continuamente que o ciclo da previsibilidade sempre vence. E, assim, você se acostuma a não se surpreender mais!

O que resta, então? Apenas aceitar. Viver cada dia sabendo que, no fundo, tudo segue um roteiro previsível. As surpresas são exceções, não regras. Quando você entende isso, para de se frustrar com a mesmice. Afinal, talvez a verdadeira surpresa preceda ausência de qualquer mudança significativa.



"Acostuma-te à lama que te espera!"