Série "Cartas Perdidas", Nº 40
Cianorte/PR, 10 de Setembro de 2003
"Quando te vi, já soube. Já sabia, era como se lhe conhecesse, como se fôssemos íntimos, do zero até meus trinta e alguns anos.
Ante a isso, voltemos algumas horas, ou dias, não sei ao certo, mas fácil sei que não foi. Procurar você, achar você, TER você. Não foi. Nunca tive de fato.
Talvez porque, no fundo, eu soubesse que você nunca seria, que éramos destinados a nos cruzar, a nos reconhecer, mas não a nos possuir. Esse sentimento de familiaridade, de pertencimento, era um reflexo do que poderia ter sido, uma vida paralela onde nossos caminhos se entrelaçaram desde o começo, mas que, nesta realidade, se limitou a um encontro tardio, cheio de anseios e frustrações.
Eu queria acreditar que bastava querer, bastava lutar, que o destino seria apenas uma questão de persistência. Mas o tempo, cruel como é, não espera por sonhos irrealizáveis. Ele segue seu curso, indiferente às nossas vontades, deixando-nos apenas com o eco do que poderia ter sido. E nesse eco, nessa distância entre o que sonhei e o que vivi, fica a amarga constatação: NUNCA tive você, e talvez seja melhor assim!
Porque, de alguma forma, você permanece idilicamente perfeita em minha mente, intocada pela realidade. Uma lembrança de algo puro e intangível, que a vida real jamais poderia corroer.
No fundo, talvez eu sempre soubesse que o nosso "nós" estava destinado a ser assim, um eterno "quase", uma melancólica lembrança do que nunca foi.
E assim, sigo, na ilusão confortável de que, em algum lugar, em algum tempo, ainda SOMOS!"
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