terça-feira, 16 de julho de 2024

Carta: "Despedida Hipócrita"

Série "Cartas Perdidas", Nº 38

São João Del Rei/MG, 07 de Junho de 1964

"Estimado

Venho, por meio desta, expressar minha profunda gratidão por tudo o que vivemos e compartilhamos. Agradeço sinceramente por todos os esforços despendidos e por cada momento inesquecível que passamos juntos. Foram tempos verdadeiramente memoráveis...

Todavia, venho com pesar anunciar que, infelizmente, não podemos mais prosseguir. Cheguei à conclusão irrevogável de que não desejo mais seguir. Suplico que respeite minha decisão.

Confesso que me preparei para ir ao seu encontro! Fui até a estação, mas, no momento decisivo, encontrei-me paralisada diante do trem, e não subi. Acredito, de coração, que não podemos mais prosseguir. Não consigo ser como outrora, e nada voltará a ser como antes.

Assim, encerro nosso relacionamento aqui e agora. Peço sinceras desculpas por qualquer transtorno que isso possa causar, mas desejo que compreenda que essa decisão me causa uma dor profunda, pois almejei, mais do que tudo, que nossa história fosse diferente. Não queria que o primeiro erro tivesse acontecido.

Algumas coisas podem, talvez, retornar ao que eram, mas outras jamais serão as mesmas. Espero que não guarde ressentimentos e que consiga me compreender. Saiba que tentei, verdadeiramente.

Desde o momento em que você se mostrou insensível enquanto eu estava convalescente, nossa história jamais foi a mesma. Desde então, estivemos em um constante esforço para consertar o que havia sido quebrado, mas sem sucesso.

Peço perdão se cometi alguma falha, mas não posso continuar. Sim, em alguns aspectos, ainda consigo seguir em frente, mas não de maneira plena.

Desejo-lhe tudo de melhor e que Deus o abençoe e guie sua vida. Contudo, rogo que siga seu próprio caminho e seja feliz, sem pra trás olhar. Da mesma forma, prometo que não o farei, pois preciso seguir adiante e não posso viver nessa constante insegurança, que tudo se alterava a cada dia. Lamentavelmente, você mudou tarde demais.

E agradeço por todos os momentos compartilhados, pois, em última análise, eles sempre farão parte da minha história.

Que Deus o abençoe abundantemente!"



Quando um relacionamento se desfaz, aquele que permaneceu leal opta pela solitude até que suas feridas emocionais cicatrizem, enquanto o outro rapidamente se lança em novos enlaces amorosos. Tal comportamento é explicado pela incapacidade de suportar a própria companhia, revelando uma profunda falta de amor próprio e imaturidade emocional. Este indivíduo vagueia em busca de preenchimento sentimental, incapaz de cultivar paciência e introspecção. Em sua jornada, acaba dilacerando corações alheios, pois sua fragilidade emocional o impede de enfrentar a solidão com dignidade. Por outro lado, o ser leal aguarda, em uma espera quase eterna, uma redenção ilusória que, tragicamente, nunca se concretizará.


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