Série "Poesias e Devaneios", Nº 5
Nem sempre é a melancolia que se torna figura central.
Existem coisas que acontecem, e que simplesmente fazemos acontecer.
Existe o desejo: os lábios, que são ambos um estranho ao
outro, mas antes o contato, os sorrisos (que são efêmeros, obviamente), as mãos,
aos poucos vão se entrelaçando, o calor, sendo transferido aos poucos onde
enfim se equilibram, se perfazem.
Aos poucos os dois corpos vão se aproximando, centímetro
após centímetro.
Antigas considerações e valores são momentaneamente
cegadas, ficando temporariamente invisíveis aos corações, que se inflamam
novamente em um fogo fugaz e passageiro.
Enfim são os lábios que se tocam fortemente, como o
choque de ondas turbulentas de um mar raivoso contra uma costa pedregosa, em
uma torrente de torpor e desejo, cada vez mais e mais crescente.
Os dois não mais se aguentam, simplesmente o querer, um
ao outros, com uma força que vem da natureza do ser humano e de instinto animal.
Se consomem ferozmente, um ao outro, onde suor entre as
peles que se alinham, se atritam incessantemente,
Onde o furor do desejo é tão intenso que visitamos por
segundos o paraíso, somos extraviados pela fúria e serenidade ao mesmo tempo,
simplesmente morremos por alguns segundos, e nossos almas estão inebriadas pelo
clímax dos clímax.
A realidade volta a torna, vem a cavalo, então vemos dois
corpos que se estranham e aos poucos se afastam, onde há dois lábios que não
mais se tocam, e não se completam, onde ali perfazem duas metades que foram
trocadas.
Então a gente percebe que sempre estará faltando aquele algo,
que a gente nunca vai ter de volta.
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