segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Ucronia

Série "Contos", Nº 3


Eu caí de paraquedas aqui? Eu estou preso em mim mesmo, 14 anos mais jovem, presumo. Mas, estou confuso.

Olha... Tinha certeza que era apenas minha consciência, a essência de mim, que havia, de uma forma ainda não compreendida por mim, se transferido daquela forma. Uma pessoa adulta presa no corpo de um jovem pré-púbere.

Eu simplesmente me assumi em um mundo que já não era mais meu há muito tempo, tendo que repentinamente conviver com coisas que não tinha mais nenhuma paciência. Mas eu simplesmente tinha que aceitar.

A verdade é que não faziam nem 5 minutos, de certo. Muito confuso. A porcaria do colégio, porque exatamente a porcaria do colégio? Nem lembro direito se eu realmente gostava ou não, mas eu presumo, que nos conhecimentos atuais um colégio para um jovem de 14 anos deveria sim ser uma porcaria de fato.

Provavelmente não era horário letivo, talvez o intervalo... Talvez, talvez, mas na prática, exatamente...

Eu estou muito, muito confuso. Eu, eu... eu nem sei como eu vim parar aqui? É como se eu tivesse vivido uma vida de 28 anos, com tudo que tem direito a vida nada simples de um adulto comum, e estou aqui no corpo de mim mesmo, 14 anos de idade? Será mesmo que eu “vim parar aqui” ou na verdade eu REALMENTE tenho 14 anos e estou sofrendo de algum raro distúrbio que me condiciona uma mentalidade de um homem de 28 anos, sem contudo aferir lembranças reais?

Mas que grande porcaria hein? Melhor me sentar aqui no banco...

Pensar, pensar, pensar... se eu tenho, ou tinha, ou terei, foda-se... 28 anos, qual minha profissão? Quais minhas ideologias, meus sonhos? Quais meus ódios? Onde eu moro, que carro eu tenho? Eu sou pai? Minha esposa é bonita... minha esposa!!!... nossa de repente parece que algo me tocou, sentindo uma pontada, de repente me vem um pouquinho de lembrança... cheiros, um cheiro bom de cabelo feminino... eu com 14 anos não devo conhecer o cheiro de cabelo feminino, né? Então, na pratica, se as lembranças não forem fruto desse possível surto, essas lembranças não pertencem a hoje, agora, exatamente, no ano de... que ano é mesmo?

Melhor ir ali correndo na diretoria da escola tentar achar um calendário, eu lembro onde fica? LEMBRO! Deu um estalo aqui agora na minha mente, eu sei onde estou! De repente me vem uma lembrança, mas não vívida, simplesmente uma lembrança longínqua de quando eu estudava no Colégio Objetivo São Marcos, uma lembrança de mais de década, eu tenho um mapa mental perfeito dessa escola, e eu estou fisicamente nele nesse exato momento! As coisas são bizarras! Muito!

De repente minha mente começou a ficar um pouco menos nublada, porque fui caminhando pra diretoria pra tentar ver um calendário, me situar, não queria de jeito nenhum conversar com ninguém, e de fato ninguém ainda tinha vindo falar comigo (eu meio que lembro que não era lá muito popular, de fato, então meus temores vão se concretizando), mas simplesmente estava tudo errado naquele ambiente, não vi UM smartphone, ninguém com a cabeça enfiada nos malditos smartphones como eu sei que são os jovens (e até adultos), onde estão os smartphones? Realmente, tá tudo errado!

Melhor ir rápido pra secretaria! Rápido, muito rápido... O chão, o chão, o chão tá vindo ao meu encontro, rápido demais, MERDA!

Que puta tropeço! Sorte que não tem ninguém por perto, acho que estou no saguão principal, mas espera aí... alguém, um rosto amigo. Porra,é o Lucas! Como ele tá novo, parece criança! Ai! Que dor no cotovelo!

_Mas que tombo, hein? ‘Cê tá bem, cara?
_Ah sim, obrigado, me ajuda aqui a levantar.
_’Cê tá esquisito, muito esquisito, qual o teu problema, viado?
_Ham?... Ah nada não, nada.

Bati o olho do lado, um calendário, e ele parecia um objeto de uso diário e não um item de antiquário ou museu, mas não conseguia entrar na minha mente nem a pau, o desenho era uma ilustração de praia, em letras garrafais, dava pra ler perfeitamente: SETEMBRO, 2001, acho que dia 29... Puta que pariu!

Mas acho que o Lucas tá olhando pra algo que caiu do meu bolso, acho que é isso, ele foi ali pegar...

_Acho que esse trem é teu, parece um papel dobrado...
ERA UMA FOTOGRAFIA!

Um objeto que simplesmente não deveria estar aqui, agora comigo... Mas porque estava? Não fiquei pensando muito como estava, mas quando peguei da mão do Lucas e desdobrei a foto, pude ver, era ELA.

A foto! eu a memorizei, cada linha, cada centímetro do teu rosto, do teu sorriso, a expressão dela, tudo. Quase posso ouvir a voz dela. Está tudo na minha mente, guardado onde ninguém pode tirar ou destruir...

Fiquei um bom tempo, acho que talvez 30 segundos, ou foram 5 minutos? Olhando? Simplesmente não pude conter comecei a chorar quieto, essa foto havia sido destruída, e por que simplesmente surge nessa circunstância, ela não deveria estar aqui! É totalmente anacrônico...

_Cara, o que foi? Quem é essa mulher? O que você tem?
_Olha... nada

Cada linha, cada centímetro, exatamente como ficou gravado à fogo na minha mente, uma linda menina, nos seus 19 ou 20 anos, olhos cor de mel penetrantes, cabelos escuros, um sorriso cativante... uma data, anacrônica, 04/02/2014, a data que a foto foi tomada, mas essa data na ocasião de agora seria considerada uma montagem grosseira, como o Lucas já observou.

_Essa data está errada, apesar de quem é uma mulher muito linda. Quem é? É tua mãe quando era jovem?
_Não, essa foto na verdade eu havia perdido, ou pelo menos achei que tinha sido perdida pra sempre, é a lembrança que tenho de alguém, o único alguém de fato.
_Não entendi nada, por que você está falando desse jeito? Está louco?

Com certeza era difícil mesmo pra um jovem mancebo de 14 anos compreender uma fala com certa carga de analogia, mas não me importei.

_Lucas, entenda, você é meu melhor amigo, você é e será durante os próximos quatorze anos, pelo menos, entenda que eu perdi essa foto, agora eu encontrei, só isso já valeu a pena, e outra coisa, essa menina linda, ela nasceu em 27 de setembro de 1996, então ela existe, ela é REAL, está aqui. Achei que esse mundo era irreal, coisa de algum distúrbio da minha mente, mas não, ela é real, felizmente tudo pode ser diferente.
_Cacete, você fumou orégano? Tá doidão? Só não entendi uma coisa, ‘cê tá me dizendo que essa mulher aí tem cinco anos de idade, de acordo com a data de nascimento dela aí na tua cabecinha, não é mesmo?
_Sim, essa foto é uma Ucronia!
_Uma o que? Ah, vai se foder, vamos embora pra sala logo, vai tocar o sinal!
_Vamos, vamos, sim.

Vamos indo pra sala, vamos e eu não ligo, eu não a perdi. Nunca vou a perder, eu sei tudo que vai acontecer, e tudo pode ser diferente a partir de HOJE.

"Quase posso ouvir a voz dela. Está tudo na minha mente, guardado onde ninguém pode tirar ou destruir..."



domingo, 20 de setembro de 2015

Acerca da Nostalgia

Série "Reflexões Pessoais", Nº 19


Nostalgia é algo normal?

Assumo dizer que sim, ou até talvez, pois tendemos a olhar para o passado como um mar de rosas. Ficamos imaginando como seria se tivéssemos feito isso ou aquilo, lembramos de oportunidades.

É comum ver adultos falando “...ah como era bom quando eu era criança'', ''como eu queria voltar a ser criança''.

Ele esquece das limitações da criança e só lembra das partes boas ( brincar, correr , etc) e se esquece por exemplo que quando era criança não podia dirigir, não podia ir pra onde queria, tinha limitações sobre com quem falar, tinha uma vida controlada pelos pais até porque a criança não sabe o que é melhor pra si.

Quanto mais aprendemos e mais conhecemos o mundo, mais observamos as suas falhas, seus defeitos, sua realidade. Mais precisamos ficar atentos aos que nos cercam pra que não nos passem a perna. Mais subimos, e quanto mais subiu mais gente tem pra puxar o tapete. 

É saudade do sossego e da despreocupação que tínhamos quando da infância e adolescência. 

É isso que todo o cara quer, viver despreocupadamente e de modo sossegado. Porém, quanto mais a realidade se abre, mais amarga se torna e mais preocupados ficamos. O que fazer? Se armar, pra tornarmo-nos as melhores versões de nós mesmos, por isso o desenvolvimento pessoal, o aprimoramento contínuo e eterno enquanto durarem nossas vidas. 

A saudade da inocência e da burrice nos é boas lembranças, mas esquecemos de que por trás de cada ato besta e inconsequente que tomávamos quando crianças ou adolescentes, em quase todas as vezes haviam adultos ou outras pessoas para nos prevenirem das consequências e quando isso não era possível, minimizá-las.

Agora, como adultos, não podemos mais nos entregar a isso. É simplesmente isso, da juventude para frente a vida da pessoa é só dele, só depende dele e tanto o sucesso quanto os fracassos deverão ser agora administrados por um homem, e não uma criança descuidada ou um adolescente impulsivo. 

Essa saudade é um modo de comparação... Aquela comparação do antes e do hoje, onde tu se perguntas: "Como as coisas mudaram tanto? E por que eu mudei tanto? Há como voltar ao menos um pouco para isso?” 

E a resposta, queira ou não é um grande NÃO. Esse é o fardo da vida, do tornar-se homem. Não devemos fugir disso, mas olhar atentamente para isso e compreender nosso eu atual e do que necessitamos para enfrentar os obstáculos que temos e alcançar o que queremos, sem muitos descuidos, sem impulsividade e deixando de lado o que é ruim na inocência infantil para não nos prejudicarmos e tropeçarmos em nossos próprios pés.
Você acha que admira o passado e olha o mundo de cima, está errado. 

Você ainda está escalando a montanha da vida, há muito o que subir, mas ao invés de andar está parado admirando o que deixou para trás, quando a verdadeira maravilha é chegar ao topo e admirar tudo lá de cima.

Por isso não se prenda ao passado, foque no teu objetivo do presente. O que sobrará são pegadas que serão cobertas por neve e das quais somente você lembrará, pois só você as caminhou e viveu. Os outros podem lembrar das pegadas, mas não serão vivas como na tua lembrança.

É um paradoxo : Uma criança morrendo de vontade de crescer pra fazer coisas de adulto e um adulto querendo voltar a  ser criança porque era uma época sem responsabilidades. Como dizem , a grama do vizinho é sempre mais verde.





O tempo não comprou passagem de volta. Tenho lembranças e não saudades.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Destilando veneno ideológico

Série "Poesias e Devaneios", Nº 25


Idiotas úteis. Imbecis fanáticos, amam de paixão figuras usurpadas de semideuses profanos. A todo pulmão entoam malditos cânticos verborrágicos, carregados de discursos, cuja composição é puro ranço dialético.

Não sentem a vida pulsar na frente dos seus olhos, não há razão para o seu viver, seus olhos estão vazios, suas vidas desperdiçadas das formas mais vazias possíveis.

Suas bandeiras são tão cinzas quanto seus versos, tortos e mentirosos.

Seus manifestos, compêndios, manais, guias, diários, panfletos: um belo banquete pra traças.

Sua moral é imoral, seus valores são desvalorizados, não há objetivo senão destruir tudo que foi edificado, erigido por anos, décadas, séculos de trabalho árduo e duro.

Sua desonestidade tamanha, assustará o pior dos vigaristas inclusive.

Idiotas úteis, malditos seres parasitas morais, vocês são o fruto da decadência moral e espiritual de uma sociedade relativística.

Lutarei até o fim das minhas forças pra combater a existência de cada uma das suas ideias. Lutarei e estou lutando.


Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário.