Série "Poesias e Devaneios", Nº 121
Com duros golpes de marreta
Abri a caixa de Pandora,
E o brilho que ali se agita
Fez da curiosidade, senhora.
Tão belo pó, azul cintilante,
Como o belo céu em plena aurora,
O que parecia encanto radiante
Morte certeira que a todos devora!
Tocando mão nua, perigo sem saber,
A cidade dormia, lívida desprevenida,
Enquanto o veneno a se esconder
Corria nas veias, a vida perdida.
O pó virou praga, sem face, sem voz,
Levou consigo sorrisos e sonho,
No silêncio pesado, restamos sós,
Num lamento que até hoje componho.
Goiânia, marcada pela dor e agonia,
Com o pó que brilhou em seu seio,
A esperança murchou em um dia,
E no brilho azul, o derradeiro enleio.
Como a mariposa que busca a luz,
Mas o que pensei ser um golpe de sorte,
Foi o abraço frio que tudo seduz
Eu me apaixonei pelo brilho da morte!
Eu me apaixonei pelo brilho da morte!
"Eu Me Apaixonei Pelo Brilho da Morte" foi uma frase dita por Devair Alves Ferreira,
uma das vítimas do Acidente Radiológico de Goiânia, amplamente
conhecido como "acidente com o césio-137", ocorrido em 1987.
A imagem da "caixa de Pandora" e o "pó azul cintilante" capturam de maneira vívida o horror e a tragédia do evento. A personificação da curiosidade como "senhora" que traz a morte reflete a ironia cruel do destino
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