Série "Cartas Perdidas", Nº 20
Paraopeba/MG - 13 de janeiro de 2004
Sabe... Já faz um tempo que estou de volta em casa... E...
Por tempo demais tenho relutado em lhe escrever... Mas agora, enquanto a
silenciosa chuva insiste em cair lá fora nessa fria noite de maio, sinto-me
na necessidade de transcrever tudo aquilo que tanto me ocupa a mente,
martelando-a incessantemente.
Falando a língua de uma simplória adolescente, já faz um
tempo que as coisas mudaram e acho que só eu não havia percebido. Já faz mesmo
um tempo desde que o acaso tratou de nos apresentar, como meros amigos, e acabou
por nos unir tão intimamente... E, neste momento, me pego nesse silêncio que
tanto me incomoda, a ponto de eu mal funcionar, pensando em tudo...
As gotas que escorrem pela vidraça me trazem à lembrança teu
riso tão sincronizado com o meu... Lembra-se das madrugadas gargalhando das
piadas bobas..? Éramos apenas dois loucos (e olhando de perto, quem é normal?).
Lembra-se das muitas mensagens de carinho trocadas nas noites de insônia? Lembra-se
da última vez que esteve por perto? Foi esta a primeira vez que voltei a
amar... E é estranho como o tempo passa tão rápido.
Eu acho que você deve estar ciente de que guardo todos os
teus sorrisos em meu pensamento... E sabe, a cada vez que o telefone toca,
sinto sua falta. Apesar de soar clichê, sinto MESMO sua falta.. Mas, ainda
assim, ainda com toda essa vontade de te ter por perto, tenho medo... Tenho
medo de que tudo se repita e que eu não seja capaz de suportar a dor uma vez
mais. Tenho medo de que não conseguirei reencontrar-me frente à novas perdas...
Tenho muito medo de que tudo seja tão passageiro tal qual é a vida.. Porque, é inevitável,
eu sei, mas não quero me permitir sofrer. Só que, mais importante, não quero também
que você se machuque. Não de novo. Não dessa vez..
Sabe o que mais? Pode parecer exagero - ou aquelas frases de boba
apaixonada - mas eu sacrificaria minha felicidade para ver a sua.. Porque isso
é importante pra mim. É sério! Simplesmente penso que tenho demasiada empatia por tudo isso a ponto de me
esquecer de mim, não dá pra diminuir a intensidade de algo tão forte como o que
sinto. E isso me apavora...
Não sei bem o que dizer, enfim... Talvez seja tudo isso
apenas um sonho. Talvez nada disso faça sentido. Mas não há mesmo muita coisa
que faça, nesse estado ilusório ao qual somos submetidos. Contudo, reitero: eu
ainda estaria aqui mesmo com toda essa loucura...
P.S.: meu som preferido continua sendo o do teu riso.
"Eu ainda estaria aqui mesmo com
toda essa loucura..."