quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Uma pequena explicação anedótica sobre Paixão e Amor

Série "Curtas", Nº 33


Definindo a paixão usando como desventuras medievais caricatas: imagine que és um bravo vassalo e que passará boa parte do seu tempo coletando os melhores equipamentos, armas e tesouros. Pois bem, quando conheces uma donzela, você receberá um feitiço, e caso caia nele, ela fará que abandones a tua armadura, dê-lhe todo o ouro que conquistara e abra o caminho bravamente para que os inimigos, monstros e demais criaturas sequer encostem nela.

Uma hora, ela irá embora, e lhe deixará sozinho, sem dinheiro, em um mundo desolado e que não tem pena de ti, e com um coração partido. Doravante, irá ficar riste por um momento, mas após um tempo, irá se recuperar e voltará a se equipar novamente, até que outra rapariga lhe encontre...

Se esta paixão for correspondida, ela corre o risco de poderes evoluir para o amor, quando(e se) chegares a este ponto, verás que os sacrifícios exigidos valeram a pena, e uma armadura secreta irá se encaixar em ti, deixando-o com atributos impossíveis de serem alcançados por outro modo.

Por isso que a paixão vale a pena, se fores correspondido, as defesas que você outrora abaixara retornarão muito mais poderosas, e com guardas postos pela outra pessoa que lhe ajudarão a controlar quem entra, e quem sai. Assim formando o que chamam de Amor.

Agora tereis cuidado, pois nem sempre seras totalmente correspondido, e, com o tempo, poderão aparecer alguns defeitos com a nova armadura.

Mas claro, tudo tão simples como uma bela caricatura que és esse pequeno texto.


"Há mais perigo em teus olhos do que em vinte espadas!"



quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Superar

Série "Poesias e Devaneios", Nº 42


Superar não significa esquecer, assim como perdoar não é voltar a querer.

Superei, mas nunca esqueci, e nem pretendo,
Preciso das memórias para não esquecer onde não devo permanecer,

E não se trata de rancor,
Minha vida não tem espaço pra isso
É uma questão de amor,
De amor próprio,

Porque é preciso lembrar,
Pra não voltar a errar
Pra aprender que nem toda promessa é verdade,
Assim como nem toda lágrima é saudade,

E as minhas tem gosto de superação,
Já não doem mais,
O perdão foi a alforria do meu coração,
Apagou os últimos traços,

Desfez todos os laços,
Abraçou o presente,
Fez brotar a semente em meio uma desilusão
Porque perdoar é acreditar,  Que apesar dos pesares,

Novos tempos virão,
E onde existia passado, 
Desabrochará a renovação. 


Por Ricardo A. Brant, em Março de 2017

"E o futuro vai ser tão brilhante, que nem vamos precisar de olhos para ver..."

terça-feira, 10 de outubro de 2017

O Lar que Jamais Tive

Série "Poesias e Devaneios", Nº 41


Que nessa terra que habito
Que nesse canto que resido
Habitável? talvez não...
De qual não houve recepção

Que estou e vou estando
Terra vil e céu em desando
Sem flores no seco pasto
Idiotices de um sonho fasto

Não me permito condescendência
Que de face minha verta
Lágrimas crus da indulgência

Terra que não ama
Lar que não acolhe
Lugar que não sou parte

Não há temor
Não há rancor
Não há amor 
Só resta aqui torpor

Não ficarei, em paz jamais
De mim pedir, paciência é demais
Pois onde há, suposto calor
Par de olhos, brilhante, torpor

Não é real, nunca será
Porque onde de fato está
Não será hoje nem aqui
Mas irei lá buscar

Onde pelos seus olhos serei devotado
E por seu coração perseverante
Pois daqui irei zarpar
E do seu coração, jamais abandonar

"Algum lugar onde não há tempo pra perder
Algum mundo onde mentiras valem mais que a verdade
Um espaço vazio em seu coração"






segunda-feira, 9 de outubro de 2017

A importância do Perdão

Série "Reflexões Pessoais", Nº 28


Muitas vezes tentamos entender e colocar um sentido em situações e momentos pelos quais passamos.

Nos sentimos enganados, ludibriados, frustrados, odiosos, com raiva e com desejos de vingança, ao descobrirmos certas “verdades”.

Todos fomos machucados na vida. Todos fomos rejeitados por uma namorada (ou namorado), traídos por um amigo, passados para trás numa promoção, rejeitados pelos pais, ou vítimas de preconceito.

E acho que é natural sentir este tipo de coisa. É claro que com o tempo, a tendência é com o decorrer das nossas vidas e nosso amadurecimento natural, ir se desapegando e seguindo sua vida, se desenvolvendo, evoluindo, deixando estes sentimentos pra trás, e olhando sempre para frente.

Mas muitos ainda, por mais que não digam ou que não afirmem isso (nem pra eles mesmos), bem lá no fundo, ficam presos ao sentimento de revanchismo, vingança a quem os iludiu, enganou, traiu. Seja quem for, a maioria de nós acredita que as pessoas que nos feriram devem pagar pela dor que nos causaram; afinal, elas merecem ser castigadas, mesmo que inconscientemente (“nada como um dia atrás do outro”, ou “o mundo dá voltas”).

Mas simplesmente: perdoe! Não se trata de esquecer a maldade alheia ou minimizar o próprio sofrimento. Para ser capaz de um perdão verdadeiro e sadio basta entender que ele traz muito mais benefícios do que o rancor.

Infelizmente, o conceito de perdão de cada um pode limitar ou dificultar a capacidade de perdoar. Dizem que perdoar é coisa de gente fraca, medrosa, sem auto estima. Possuímos crenças negativas de que perdoar é aceitar de forma passiva tudo o que nos fizeram. Achamos que perdoar é aceitar agressões, desrespeito aos nossos direitos. Alguns afirmam: “eu não levo desaforo para casa!…” ou tipo “Que se foda! Sou assim mesmo!” Pergunto: Somos alguns destes? Devemos agir sempre assim? Será que a pessoa que perdoa demonstra fraqueza de caráter? NÃO, NÃO E NÃO!

Olhando somente para o escopo do tema Relacionamento:

Muitos dizem: “Ah, eu me dei muito mal com aquela pessoa”. É claro! E não foi por causa de nenhum tipo de “predestinação” ou algo que o valha. Porque se iludiram, pensaram que ela seria perfeita o tempo todo.

E então muitos dizem que não conseguem perdoar porque estão muito magoados. Porém, o problema não está no outro, pois era previsível que por mais especial que esta pessoa fosse, um dia acabaria agindo de forma diferente daquela que esperávamos. O erro está em nós, que não aceitamos as pessoas como elas são. Ainda mais nos dias de hoje, onde pode tudo!

Pergunto: Será que estamos aceitando as pessoas como elas são? Será que não estamos esperando muito dos outros? Será que estamos esperando lidar com seres utópicos e absolutamente altruístas? Sabemos que de angelicais e puros eles não tem nada, são humanos tanto quantos nós. Amigo, sem Aceitação, não há Perdão!

Um outro motivo para esquecermos as ofensas está na constatação de que o perdão traz um grande alívio para quem perdoa. Não é para quem é perdoado. Muitas vezes quem é perdoado não consegue se livrar da sua consciência, mas este também precisa aprender a se perdoar e a recomeçar novamente. O auto perdão também é importante. Para que reconhecendo os nossos erros encontremos forças para reformular nossas atitudes e começar uma nova vida.

Considerando a própria fragilidade, o indivíduo deve conceder-se a oportunidade de reparar os males praticados, reabilitando-se perante si mesmo e perante aqueles a quem haja prejudicado. O arrependimento, puro e simples, se não acompanhado da ação reparadora, é tão inócuo e prejudicial quanto a falta dele.

Perdoe a si mesmo pelos erros cometidos no passado e não fique se martirizando por isso. O auto perdão ajuda o amadurecimento moral, emocional, porque propicia clara visão responsabilidade, levando o indivíduo a cuidadosas reflexões, antes de tomar atitudes agressivas ou negligentes, precipitadas ou contraditórias no futuro.
Quando alguém se perdoa, aprende também a desculpar, oferecendo a mesma oportunidade ao seu próximo.

“O PERDÃO É SEMPRE PARA QUEM PERDOA”.

Não nos contaminemos pela raiva, pela cólera e pela mágoa. Vivamos em paz e com a nossa consciência tranquila pronta para merecer o perdão das pessoas que prejudicamos com os nossos atos, palavras e pensamentos, pois somente será perdoado aquele que perdoa. Essa é a lei.

Quando digo perdoar a pessoa que te prejudicou, não quero dizer que as coisas vão ser igual ao que era antes, que você vai ter que conviver com a pessoa, ou se relacionar com ela. Não, não e não. Você apenas aceita que a pessoa agiu daquela forma e que ela é assim e de certa forma você se protege e começa a andar pra frente rumo ao seu desenvolvimento e sua paz de espírito.

Quando perdoamos as pessoas que nos machucaram, não estamos dizendo que o que foi feito contra nós não teve importância (“não foi nada”) ou não deixou marcas profundas (aquelas a ferro e fogo). Essas perdas foram terríveis e fizeram grande diferença em nossa vida, mas nos ensinaram muitas coisas: tanto a não nos tornarmos vítimas novamente, como não fazermos o mesmo para terceiros e o principal, traz pra nós o aprendizado.

PERDOAR NÃO É ESQUECER. É LEMBRAR SEM SENTIR DOR. É NÃO LEVAR EM CONTA.

O sensato perdoa. Portanto, seja o que for e a quem for.

O perdão beneficia aquele que perdoa, por propiciar-lhe paz espiritual, equilíbrio emocional e lucidez mental na busca no auto-conhecimento.

Não perdoar nos dá a ilusão de força, de poder (“agora eu controlo”). Não perdoar ajuda a compensar a sensação de falta de poder que nós sentimos quando fomos machucados.
De fato, se trancarmos na prisão de nossa mente essas pessoas que nos prejudicaram, vamos nos sentir onipotentes (“agora é minha vez”) pela força do nosso ódio silencioso. Isso não é bom.

E, por último, não perdoar nos dá a ilusão de que não seremos machucados outra vez. Mantendo a dor viva, os olhos bem abertos para qualquer perigo em potencial, reduzimos o risco de voltamos a sofrer rejeição, traição ou qualquer outra forma de ferimento.
Mas será que os benefícios (iludidos) de não perdoar valem o preço que pagamos por armazenar essas mágoas, remoer esses sentimentos e nos agarrarmos com unhas e dentes à dor do passado? Será que vale a pena continuarmos alimentando a raiva, revidando com palavras ou com silêncio e assim nunca sentirmos o verdadeiro prazer de viver? Vale a pena corroer a alma dessa forma?

Claro que não! Simplesmente desapegue-se do passado e seja uma pessoa melhor pra você mesmo!!

O perdão se torna uma possibilidade quando a dor do passado cessa de reger nossas vidas; quando não precisarmos mais do ódio e do ressentimento como desculpas para obter menos da vida, do que queremos ou merecemos. Perdoar é chegar à conclusão de que já odiamos bastante e não queremos odiar mais; portanto, perdoar é usar a energia da vida, não para reprimir esses sentimentos, mas para quebrar o ciclo da dor se voltando para o futuro e não machucando outras pessoas como fomos machucados.

Há quem diga que perdoar é escolher entre se vingar e se aproximar, entre ser vítima ou sobrevivente. Na realidade, perdoar é um processo que vem de dentro. É uma libertação. Uma aceitação. Perdoar é aceitar que a coisas ruins podem e de fato acontecerem na vida das pessoas, e que as pessoas mesmo quando se envolvem, machucam e se machucam. Perdoar é um sentimento de bem-estar, é reconhecer que existe algo melhor que queremos fazer com a energia da vida e fazê-lo.


E creio que todos nós aqui somos sobreviventes rumo a um futuro de muitas batalhas, na busca de sermos melhores seres humanos.

"A raiva te torna menor, enquanto o perdão te força a crescer além do que você era."
Cherie Carter-Scott

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Você está acordado?

Série "Reflexões Pessoais", Nº 27


A mente humana possui diversos mecanismos vitais para a sobrevivência humana e o principal deles é o poder de abstração. Abstrair a nossa realidade é a programação natural que nos foi feita assim que nascemos e começamos a interpretar o mundo a nossa volta. Nosso cérebro foi moldado durante anos de evolução, entretanto isso não significa que estejamos livres de um grande defeito: viver no modo automático. 

A principal causa desse modo é não viver no presente, sempre pensando no passado e no futuro. Vivemos mortos em uma sociedade onde o fluxo de informação é tanto que o processamento não consegue ser totalmente consciente, lidamos de maneira automática durante a maior parte do processo.

Experimente se lembrar do que você comeu três dias atrás no almoço. Se não houver recordação sobre isso provavelmente você não estava lá, fazemos isso o tempo todo, estamos dormindo o tempo inteiro. 

A consciência nos foi tomada, após ondas e mais ondas de informação a fadiga mental é tanta que entrar em modo automático é questão de sobrevivência e manutenção da espécie, assim como viver no presente era primordial para os nossos ancestrais continuarem vivendo. 

Nossos antepassados tinham que viver um momento de cada vez se quisessem se manter vivos, pois não havia nenhuma outra forma de se proteger a não ser observar a realidade nua e crua, sem nenhum tipo de distorção. Hoje as necessidades mudaram, se passarmos a viver no presente e questionarmos o porque das nossas ações e atitudes a civilização não duraria sequer mais um dia, pois nada do que fazemos faz realmente algum sentido no presente. 

A sociedade está doente, vivemos por promessas de um futuro que nem sequer existe e por um passado que não pode ser alterado. Tomamos atitudes baseados em um amanhã que talvez nunca chegue e achamos isso perfeitamente racional e razoável, afinal todos fazem o mesmo. Jogamos o nosso individualismo em troca de um coletivo que sobrevive a cada dia por uma mera questão de formalidade e costume em seguir vivendo uma vida que nem sequer é sua, pois você não vive de corpo e alma cada momento.

É preciso admitir que falta vontade para viver. O corajoso é aquele que mesmo com medo enfrenta o problema. O medroso é tal qual como o corajoso, pois ambos possuem medo. O destemido é aquele que entendeu que o medo só prejudica a experiência e resolveu se abnegar, entendeu que o caminho do não ser é a melhor forma de se chegar ao objetivo, pois não sendo pode-se ser qualquer coisa na hora certa.

E você? Até quando vai se entregar ao medo e deixar de viver no presente? Até quando a desculpa para o seu fracasso vai ser aquilo que já aconteceu e não pode ser alterado? Até quando a desculpa para o seu fracasso vai ser aquilo que nem sequer existe ainda?

Viva a vida em sua plenitude. Observe o mundo em sua volta ao menos uma vez e encante-se. Tenha consciência de cada ação e atitude do seu corpo, cada passo, cada respirar, cada batimento cardíaco pelo menos por alguns instantes. O presente é tudo que existe, se você não consegue viver nele você não está vivendo, está fugindo.

Será que suas escolhas de vida foram tão ruins que você não consegue encará-las de frente? Será que você tem que viver a vida inteira fugindo de você mesmo e do mundo, como se fosse um criminoso, um traidor de si mesmo?

A maior parte dos problemas da sua vida são resultantes da falta de atenção. Mas, como ter atenção se você nem sequer está aqui? Você sempre está lá, nunca aqui no presente, onde tudo acontece. 

Acorde!

Aquela mulher que te deu um pé na bunda nunca te quis, mas você estava tão distraído vivendo no passado ou no futuro que se esqueceu de observar o desprezo e o oportunismo no olhar dela. 

Aquele amigo traidor nunca se preocupou com você, mas você estava tão bêbado que não conseguia perceber.

Aquele concurso que parecia distante estava tão próximo, mas você resolveu jogar as suas prioridades no lixo em prol de algum pensamento inútil que invadiu a sua cabeça. 

No presente não há pensamento, há ação. A atenção para se manter no presente é tanta que a possibilidade de pensar nem sequer existe.

Até quando você vai ser vítima do seu pensamento? Até quando vai viver em um mundo de ilusões?


Se liberte!

"Povos livres, lembrai-vos desta máxima: A liberdade pode ser conquistada, mas nunca recuperada."
Jean-Jacques Rousseau

sábado, 17 de junho de 2017

Síndrome da Rainha Vermelha na Vida Pessoal

Série "Reflexões Pessoais", Nº 26


A "Síndrome da Rainha Vermelha" é um conceito, um postulado de sociologia, publicado na forma de livro de não-ficção pelo autor e sociólogo Marcos Rolim.

Todo o conceito da obra é pensado para ser trabalhado em cima da segurança pública brasileira e suas deficiências.

A ideia surge de uma passagem específica de personagens específicos da obra de Lewis Caroll, "Alice Através do Espelho". É sobre a frustrante sensação da personagem Alice de que quanto mais se corre, mais se fica no mesmo lugar:

"..."Vamos , Alice , corra, corra mais". Exausta com o esforço, ela se frustra quando percebe que não saiu do lugar. No mundo da Rainha Vermelha é assim mesmo. Corre-se mais e mais, para não sair do lugar. Alias, é preciso correr muito para ficar no mesmo lugar..."

Alias a metáfora que é o escopo do tema pode nos levar a refletir não só sobre a segurança pública, mas também sobre outros temas e aspectos.

Quantas vezes na vida nos pegamos sofrendo de tal Síndrome? Exatamente assim, correndo contra o tempo implacável para exatamente FICAR NO MESMO LUGAR? Somos frustrados com o bombardeamento pelas mídias diversas sobre a possibilidade de todo mundo ter "seu lugar ao Sol", como se o "sonho americano" fosse extensível para nós aqui também nas terras verde-amarelas. 

Crescemos e amadurecemos em uma bolha social e filosófica onde nos é apregoado que com o simples esforço e um "querer" conseguiremos atingir nossos objetivos utópicos: sermos ricos, famosos, e até mesmo coisas que julgamos simples, como sermos reconhecidos e amados simplesmente pelo nosso caráter e nossa honra, e não simplesmente pelo que temos ou nossa aparência externa, cor da pele, etc.

É aí que chegamos ao ponto de perceber que estamos fazendo EXATAMENTE o que Alice fez: correndo, correndo, correndo e correndo com toda força para ficar no mesmo lugar: pagar nossas contas, acordar cedo, trabalhar em uma rotina monótona e angustiantemente previsível, sustentar ego e luxúria de uma sociedade pautada pela aparência e com uma profundidade tão "grande" quanto uma piscina infantil.

E como Alice, no livro de Lewis Caroll, nós mesmo acabamos se frustrando, e exaustos pelo esforço inutilmente desenvolvido, desistimos de tentar, de ser, de criar, e passamos apenas a existir, de forma vazia e automática, como uma legião de fantasmas, vivendo a vida no "modo automático".

E com o olhar vazio "das mil jardas": NASCEMOS COMO UM MORTO E MORREMOS COMO SE NUNCA TIVÉSSEMOS NASCIDO.

"...e quando a própria vida funciona como uma máquina de destruir sonhos e padronizar almas..."




terça-feira, 6 de junho de 2017

Por que eu acredito em Deus?

Série "Reflexões Pessoais", Nº 25



Uma pergunta que seria tão simples e ao mesmo tempo tão complexa: Porque eu acredito em Deus?

Primeiramente eu divido conceitos de forma bem clara e concisa em minha mente: Fé e Doutrina, Espiritualidade e Religião. Tais conceitos que a primeira vista poderiam ser considerados praticamente sinônimos, pra mim se opõem fortemente. Pra mim a doutrina estraga a fé, e a religião sufoca a espiritualidade.

Tendo em mente que divido claramente os conceitos retromencionados, já adianto que não sou religioso, tampouco, apesar de desnecessário dizer, sigo quaisquer doutrina de forma íntima. 

As pessoas costumam crer verdadeiramente em Deus por duas vias distintas: experiência pessoal/sobrenatural ou pela pura lógica. Desta forma, digo que minha crença em Deus, no Criador, se deu basicamente pela segunda alternativa. 

Nunca de fato pude sentir aquilo que muitos dizem sentir, e por isso cheguei a duvidar. Não poderia ter sido tão tolo.

Basicamente ao se compreender o ser humano como espécime biológico, podemos ter a noção de quão limitadas são nossas ferramentas de percepção do ambiente que nos cerca, da nossa auto-declarada "realidade". Tudo em nós é extremamente limitado, nosso cérebro nos oferece um modelo muito limitado da dita realidade para que possamos viver nossas vidas de acordo com nossos preceitos puramente biológico.

Desta forma lhes pergunto, como então que entenderíamos a lógica do Criador sendo nós mesmos a mera Criatura? Como entender a lógica de Algo que pode estar por trás da criação das próprias leis da física como conhecemos? 

É como se imaginássemos de alguma forma um computador tentando compreender o amor, ou o ódio, simplesmente não dá. O computador é criação nossa.

Não há como a Criatura entender a lógica do Criador, seria-nos muita presunção quiçá entender a sua existência ou não-existência, mesmo porque o próprio conceito de "existência" é algo muito limitado que nos é oferecido pelo nosso humilde cérebro. 

Creio em Deus, embora sou e serei sempre muito limitado para compreendê-lo.



"Somos apenas parte de um todo."





quarta-feira, 17 de maio de 2017

Há Infinita Ternura

Série "Poesias e Devaneios", Nº 40


Há infinita ternura
Ante o anoitecer
Os olhos do pássaro seduz
Buscando o que é impossível de ter

A ternura infinita se revela
Sob o sol de meio dia
Acordes do piano que apela
E acaricia a melodia

Talvez um dia o poeta chore
E suas lágrimas sejam ouvidas
Precedendo um tempo de amor
Onde as flores são bem-vindas

Meu amigo, um dia será
Com flores em cada porta
E as lágrimas vão secar
Num tempo que a vida conforta

Há infinita ternura
Ante o anoitecer
Os olhos do pássaro seduz
Buscando o que é impossível de ter




"Veja o mundo num grão de areia, veja o céu em um campo florido,
guarde o infinito na palma da mão, e a eternidade em uma hora de vida!"

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Quando o fim chega para um Velho Pescador

Série "Poesias e Devaneios", Nº 39


Uma só metade, sou, sucintamente
Brevemente, serei novo
Logo, inteiro, descano eternamente

As ondas trazem sal
Fúria, amor, tranqüilidade
Ondas lavam sobre mim
Trazem do mar a reciprocidade

Eu não consigo entender
O sol estava tão brilhante
Esses últimos goles, aqui vou estender

Dizem que por quão longe a casa se encontra
O mar é minha terra, meu senhor
Eu encontrei, enfim, meu lugar
Serei a costa por onde a onda adentra

Meu dever já foi lido, liberto
Os gritos já foram silenciados
De onde a água encontra a terra
Na costa onde vejo o mar aberto

Morte passada,
Tempo passado, 
Vamos dormir


Dedico essa pequena poesia às pessoas que a onda já levou, mas que ficarão pra sempre em nossos corações.

V. S. Rezende *1943 † 2017
A. Ribeiro *1937 † 2017


"Tudo é passageiro. E do fim, não se escapa."



sábado, 8 de abril de 2017

Carta: "Tempo é distância"

Série "Cartas Perdidas", Nº 23


Socorro/SP - 7 de agosto de 1998


Não sei ao certo porque lhe escrevo agora, e nem tenho tempo nem paciência mais para tal.

A questão é que de fato senti falta. E escrevo "senti falta" simplesmente, sem me referir objetivamente ao que ou à quem eu sinto de fato falta, mas deixo em aberto por exatamente não saber.

Não sei o que tem em mim que me representa uma saudade ou nostalgia tansa, mas a questão é que, sim, senti falta das cartas tolas que lhe envei um dia já, mas em um tom totalmente diferente.

Te amei demais por meio de palavras, tinta e papel, mas que poderia ter ebulido todos esses sentimentos presos aqui por outros meio, digamos, bem mais tangíveis. Sim, não devo ser tão frio e platônico a fim de falar que amava você de forma pura e te tomava como um anjo puro. Era de fato uma paixão bem mais profana que você possa imaginar, pois eu como um homem carnal te desejava em cada centímetro de pele sua, e poderia ter te devorado em êxtase, te arrancado cada gota de fôlego como uma mulher sendo um vulcão eruptivo. Ah sim, como teria!

Mas é vão falar sobre não-fatos, só devo reforçar que lhe escrevi agora porque quis tentar lembrar disso que existia em mim, e se esvaiu. Meus olhos têm ficado vazios a cada dia, semana, mês, enfim. Tenho me sentido estranho, me sinto esticado, como manteiga espalhada em um grande pedaço de pão, estou fino. Te escrevi por isso, senti falta, e sinto falta, talvez de você mesma, ou talvez daquele fogo, brilho no olhar que eu via no seu, mas que na verdade era eu mesmo. Como já me disseram uma vez, eu vejo em você o meu amor próprio, e amo você como se fosse um reflexo aperfeiçoado meu.

É disso que sinto falta, de fato, sim, ter um reflexo aperfeiçoado meu, eu perdi isso, perdi essa capacidade de ver isso em mim mesmo, mesmo que fatalmente eu tivesse outrora refletido isso em outra pessoa.

Mas isso nem importa muito, o importante é tentar dizer, pois você sumiu, não te vejo, sumiu até de meus sonhos, parece que realmente nem mesmo existiu.

Talvez no fundo eu nunca tenha deixado de te amar, mesmo que ainda ame uma sombra.


"Certas coisas são injustas e intempestivas, enfim! Devo me acostumar com esse fato, ela é desproporcional em muitos pontos."

domingo, 1 de janeiro de 2017

Eu sou um Lobo

Série "Curtas", Nº 32


Eu sou um lobo porque eu me encontro nas sombras e na dor.

Não existe felicidade derradeira senão aquela em que voltamos a ser o que sempre fomos na nossa natureza mais primitiva.

Eu busco as revelações de tudo que os sagrados contaram para os imprudentes nos sonhos de brasas frias sob os raios de sol que se dissipam sobre lagoas de sangue negro e cobras que comem pedaços de crianças das árvores de cordeiros no outono

O sofrimento eterno é a infelicidade dos homens ignorantes que nunca falham em buscar as profundezas de seus próprios corações e vêem somente a riqueza de um pobre mundo que sofre para esfolar seu próprio dorso com facadas de prata e agradecimento brutal.


"Em segundos, minutos ou anos, meus passos são soturnos."