Série "Reflexões Pessoais", Nº 28
Muitas vezes tentamos entender e colocar um sentido em
situações e momentos pelos quais passamos.
Nos sentimos enganados, ludibriados, frustrados, odiosos,
com raiva e com desejos de vingança, ao descobrirmos certas “verdades”.
Todos fomos machucados na vida. Todos fomos rejeitados por
uma namorada (ou namorado), traídos por um amigo, passados para trás numa
promoção, rejeitados pelos pais, ou vítimas de preconceito.
E acho que é natural sentir este tipo de coisa. É claro que
com o tempo, a tendência é com o decorrer das nossas vidas e nosso
amadurecimento natural, ir se desapegando e seguindo sua vida, se
desenvolvendo, evoluindo, deixando estes sentimentos pra trás, e olhando sempre
para frente.
Mas muitos ainda, por mais que não digam ou que não afirmem
isso (nem pra eles mesmos), bem lá no fundo, ficam presos ao sentimento de
revanchismo, vingança a quem os iludiu, enganou, traiu. Seja quem for, a
maioria de nós acredita que as pessoas que nos feriram devem pagar pela dor que
nos causaram; afinal, elas merecem ser castigadas, mesmo que inconscientemente
(“nada como um dia atrás do outro”, ou “o mundo dá voltas”).
Mas simplesmente: perdoe! Não se trata de esquecer a maldade
alheia ou minimizar o próprio sofrimento. Para ser capaz de um perdão verdadeiro
e sadio basta entender que ele traz muito mais benefícios do que o rancor.
Infelizmente, o conceito de perdão de cada um pode limitar
ou dificultar a capacidade de perdoar. Dizem que perdoar é coisa de gente
fraca, medrosa, sem auto estima. Possuímos crenças negativas de que perdoar é
aceitar de forma passiva tudo o que nos fizeram. Achamos que perdoar é aceitar
agressões, desrespeito aos nossos direitos. Alguns afirmam: “eu não levo
desaforo para casa!…” ou tipo “Que se foda! Sou assim mesmo!” Pergunto: Somos
alguns destes? Devemos agir sempre assim? Será que a pessoa que perdoa
demonstra fraqueza de caráter? NÃO, NÃO E NÃO!
Olhando somente para o escopo do tema Relacionamento:
Muitos dizem: “Ah, eu me dei muito mal com aquela pessoa”. É
claro! E não foi por causa de nenhum tipo de “predestinação” ou algo que o
valha. Porque se iludiram, pensaram que ela seria perfeita o tempo todo.
E então muitos dizem que não conseguem perdoar porque estão
muito magoados. Porém, o problema não está no outro, pois era previsível que
por mais especial que esta pessoa fosse, um dia acabaria agindo de forma
diferente daquela que esperávamos. O erro está em nós, que não aceitamos as
pessoas como elas são. Ainda mais nos dias de hoje, onde pode tudo!
Pergunto: Será que estamos aceitando as pessoas como elas
são? Será que não estamos esperando muito dos outros? Será que estamos
esperando lidar com seres utópicos e absolutamente altruístas? Sabemos que de
angelicais e puros eles não tem nada, são humanos tanto quantos nós. Amigo, sem
Aceitação, não há Perdão!
Um outro motivo para esquecermos as ofensas está na
constatação de que o perdão traz um grande alívio para quem perdoa. Não é para
quem é perdoado. Muitas vezes quem é perdoado não consegue se livrar da sua
consciência, mas este também precisa aprender a se perdoar e a recomeçar
novamente. O auto perdão também é importante. Para que reconhecendo os nossos
erros encontremos forças para reformular nossas atitudes e começar uma nova
vida.
Considerando a própria fragilidade, o indivíduo deve
conceder-se a oportunidade de reparar os males praticados, reabilitando-se
perante si mesmo e perante aqueles a quem haja prejudicado. O arrependimento,
puro e simples, se não acompanhado da ação reparadora, é tão inócuo e prejudicial
quanto a falta dele.
Perdoe a si mesmo pelos erros cometidos no passado e não
fique se martirizando por isso. O auto perdão ajuda o amadurecimento moral,
emocional, porque propicia clara visão responsabilidade, levando o indivíduo a
cuidadosas reflexões, antes de tomar atitudes agressivas ou negligentes,
precipitadas ou contraditórias no futuro.
Quando alguém se perdoa, aprende também a desculpar,
oferecendo a mesma oportunidade ao seu próximo.
“O PERDÃO É SEMPRE PARA QUEM PERDOA”.
Não nos contaminemos pela raiva, pela cólera e pela mágoa.
Vivamos em paz e com a nossa consciência tranquila pronta para merecer o perdão
das pessoas que prejudicamos com os nossos atos, palavras e pensamentos, pois
somente será perdoado aquele que perdoa. Essa é a lei.
Quando digo perdoar a pessoa que te prejudicou, não quero dizer
que as coisas vão ser igual ao que era antes, que você vai ter que conviver com
a pessoa, ou se relacionar com ela. Não, não e não. Você apenas aceita que a
pessoa agiu daquela forma e que ela é assim e de certa forma você se protege e
começa a andar pra frente rumo ao seu desenvolvimento e sua paz de espírito.
Quando perdoamos as pessoas que nos machucaram, não estamos
dizendo que o que foi feito contra nós não teve importância (“não foi nada”) ou
não deixou marcas profundas (aquelas a ferro e fogo). Essas perdas foram
terríveis e fizeram grande diferença em nossa vida, mas nos ensinaram muitas
coisas: tanto a não nos tornarmos vítimas novamente, como não fazermos o mesmo
para terceiros e o principal, traz pra nós o aprendizado.
PERDOAR NÃO É ESQUECER. É LEMBRAR SEM SENTIR DOR. É NÃO
LEVAR EM CONTA.
O sensato perdoa. Portanto, seja o que for e a quem for.
O perdão beneficia aquele que perdoa, por propiciar-lhe paz
espiritual, equilíbrio emocional e lucidez mental na busca no
auto-conhecimento.
Não perdoar nos dá a ilusão de força, de poder (“agora eu
controlo”). Não perdoar ajuda a compensar a sensação de falta de poder que nós
sentimos quando fomos machucados.
De fato, se trancarmos na prisão de nossa mente essas
pessoas que nos prejudicaram, vamos nos sentir onipotentes (“agora é minha
vez”) pela força do nosso ódio silencioso. Isso não é bom.
E, por último, não perdoar nos dá a ilusão de que não
seremos machucados outra vez. Mantendo a dor viva, os olhos bem abertos para
qualquer perigo em potencial, reduzimos o risco de voltamos a sofrer rejeição,
traição ou qualquer outra forma de ferimento.
Mas será que os benefícios (iludidos) de não perdoar valem o
preço que pagamos por armazenar essas mágoas, remoer esses sentimentos e nos
agarrarmos com unhas e dentes à dor do passado? Será que vale a pena
continuarmos alimentando a raiva, revidando com palavras ou com silêncio e
assim nunca sentirmos o verdadeiro prazer de viver? Vale a pena corroer a alma dessa forma?
Claro que não! Simplesmente desapegue-se do passado e seja uma pessoa melhor pra você mesmo!!
O perdão se torna uma possibilidade quando a dor do passado cessa
de reger nossas vidas; quando não precisarmos mais do ódio e do ressentimento
como desculpas para obter menos da vida, do que queremos ou merecemos. Perdoar
é chegar à conclusão de que já odiamos bastante e não queremos odiar mais;
portanto, perdoar é usar a energia da vida, não para reprimir esses
sentimentos, mas para quebrar o ciclo da dor se voltando para o futuro e não
machucando outras pessoas como fomos machucados.
Há quem diga que perdoar é escolher entre se vingar e se
aproximar, entre ser vítima ou sobrevivente. Na realidade, perdoar é um
processo que vem de dentro. É uma libertação. Uma aceitação. Perdoar é aceitar
que a coisas ruins podem e de fato acontecerem na vida das pessoas, e que as
pessoas mesmo quando se envolvem, machucam e se machucam. Perdoar é um sentimento
de bem-estar, é reconhecer que existe algo melhor que queremos fazer com a
energia da vida e fazê-lo.
E creio que todos nós aqui somos sobreviventes rumo a um
futuro de muitas batalhas, na busca de sermos melhores seres humanos.
"A raiva te torna menor, enquanto o perdão te força a crescer além do que você era."
Cherie Carter-Scott