segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Afinal, o quão melhor era a vida nos anos 90? Onde a internet entra nisso?

Série "Reflexões Pessoais", Nº 57


A vida nos anos 90 era melhor, a resposta rápida é essa. Bem melhor. Opinião obviamente pessoal.

Eu me refiro à vida social, à nossa existência como indivíduos. Sei que parece uma insanidade dizer isso, na época de nossas famigeradas "redes sociais", mas, em realidade, não é. Por quê? Ora, porque a perfeição está na imperfeição. Amor não é idealizar, mas elevar a própria imperfeição em si ao status de perfeição. E no que isto tem a ver com a minha afirmação inicial? Em um bocado de coisa.

A satisfação da internet não está no agora, mas lá no seu início e popularização. A internet era algo excitante até final da década passada. Depois, tornou-se algo invisível. A sua então excepcionalidade foi totalmente incorporada à nossa normalidade. Hoje em dia, a internet é quase como água e luz, algo invisível, que sequer notamos. A única revolução chama-se smartphone. Mas ele não é exatamente novo (foi em 2007 que a Apple lançou o que nós entendemos hoje pelo vocábulo). A verdadeira explosão de novidades se deu nos anos 90.

A nossa felicidade com uma tecnologia está quando ela se encontra no início para meados da sua popularização. Entrar na internet era algo genuinamente excitante nos anos 90 e começo dos 2000. Aí, veio a internet de banda larga e o serviço tornou-se irrelevante. Antigamente, os pacotes de velocidade eram extremamente importantes. Hoje? Quase que irrelevantes. Apenas notem as diferenças de preços entre os pacotes, onde o dobro de velocidade custa apenas uns 10 ou 15% a mais.

Isto é um indicativo mais do que suficiente de que a internet como tecnologia revolucionária desapareceu, ela se tornou o ar que respiramos. E o mesmo vale para o tempo das mercearias. O que sustenta a nossa excitação por algo é a dificuldade de consegui-la. Retire totalmente o obstáculo e o ímpeto por X eventualmente também se esvai consigo. O resultado dos avanços tecnológicos é que estamos mais entediados hoje do que nunca. Éramos felizes quando ainda contemplávamos o porvir, e não quando ele por fim chegou.

Quando contemplamos algo, nos permitimos sonhar com as suas (desconhecidas) possibilidades. Uma vez sabendo de diversos prós e contras de uma coisa plenamente desenvolvida, tudo obviamente muda. Nada nos escravizou mais do que a dobradinha internet + smartphone. Somente o que as redes sociais nos fazem de negativo é qualquer coisa de assombroso. 

Os melhores tempos já passaram. Acabou!


UOL, 22 de julho de 1997


2 comentários:

  1. Muito bom texto meu nobre. Vivi bem essa época do "antes e o depois". Realmente éramos mais felizes e não sabíamos. Precisávamos garimpar para ter algo, hoje se tem tudo na mão e rápido.

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  2. Vivíamos numa época de ouro ,onde a felicidade era real em cada momento simples do nosso dia a dia,bons tempos aqueles.Fomos privilegiados por ter vivido com intensidade aqueles tempos, hoje nos restam as boas lembranças.

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