quarta-feira, 31 de julho de 2024

Carta: "A última do Século"

Série "Cartas Perdidas", Nº 39 

São Paulo, 29 de dezembro de 1999

"Te amo tanto... 

Forma estranha de iniciar né? Mas consiste na verdade. Estamos em 1999, à beira de um novo milênio, mas ainda vivemos em uma era onde os seres humanos têm sentimentos. Ou, pelo menos, eu ainda tenho, eu creio ter!

Sei que hoje inexiste reciprocidade de sua parte, mas mesmo assim, senti a necessidade de lhe escrever. Já falei sobre isso para outras pessoas, mas agora estou lhe dizendo diretamente: nós combinamos totalmente em quase tudo. Só faltou aquele detalhe, fatores tão externos à nossas vidas rotineiras, tão distante... mas isso é algo inevitável.

Ainda penso em ti e há possibilidade de nunca deixar de pensar. Nunca mesmo. Cada momento, conversa, riso compartilhado, tudo permanece vivo em minha memória. Mesmo que nossos caminhos tenham se separado, o que sinto não mudou e nunca mudará.

Lembro-me de quando nos conhecemos, como tudo parecia tão perfeito. A maneira como você sorria, seu olhar iluminava o ambiente, nossas conversas fluíam naturalmente. Parecia que havíamos encontrado em cada um o complemento perfeito. A sintonia era inegável, e a conexão, profunda! E que conexão!

No entanto, a vida tem suas próprias formas de testar os laços, e no nosso caso, a política foi o obstáculo. É engraçado como algo tão externo pode impactar tão profundamente uma relação que, de outra forma, seria perfeita. Mas sei que cada discussão, cada desacordo, só reforçou o quanto nos importávamos um com o outro, mesmo quando estávamos em lados totalmente opostos.

Enquanto o novo milênio se aproxima, reflito sobre o que poderia ter. A distância e o tempo podem mudar muitas coisas, mas não podem apagar o que sentimos e vivemos. Sempre haverá um lugar especial em meu coração reservado para ti, independentemente do que o futuro traga.

Quero que saiba que te desejo tudo de melhor. Que você encontre felicidade, amor e realização em tudo o que fizer. E, quem sabe, nossos caminhos possam se cruzar novamente em algum ponto do futuro, talvez em circunstâncias muito diferentes, onde possamos redescobrir tudo que uma vez compartilhamos.

Com todo o meu carinho e amor"


"E, quem sabe, nossos caminhos possam se cruzar novamente em algum ponto do futuro,
talvez em circunstâncias muito diferentes..."



terça-feira, 23 de julho de 2024

Saudade única, Saudade Válida

Série "Poesias e Devaneios", Nº 118

Saudade única, saudade válida,
Que no peito sempre arde,
Tua presença era sólida,
Brisa de uma bela tarde

Noites calmas, teu sorriso,
Ecoa como canção,
No coração, paraíso,
Feito pura emoção.

Teus olhos cintilantes,
Iluminam o meu ser,
Em sonhos bem distantes,
Saudade fez doer.

Cada lembrança, um tesouro,
Guardado com devoção,
Teu nome, meu porto seguro,
És bela, minha paixão.

Mesmo na ausência, 
És, tanto, minha guia,
Saudade, encontro abrigo,
Teu coração, melodia

Saudade única, verdadeira,
Que no peito sempre arde,
Tua presença era inteira,
Brisa de uma bela tarde

Tua presença era inteira,
Brisa de uma bela tarde...



"Começou como terminou e terminou sem começar...Começou sem terminar e sem fim ficará."



segunda-feira, 22 de julho de 2024

Uma Noite de Renúncias

Série "Diálogos Efêmeros", Nº 4

Ela suspirou e interrompeu a fala dele com um olhar vazio, sem a menor vontade de prolongar a conversa. Ele, percebendo a frieza, afastou-se um pouco, sentindo a distância crescer entre eles. O silêncio pairou, carregado de ressentimento, com as mãos dos dois permanecendo imóveis, sem desejo ou carinho. Quando finalmente ela tomou coragem para falar, seus olhos evitavam os dele e disse:

_Acho que já não temos mais nada a dizer. Desde o momento em que percebi quem você realmente é, soube que nosso tempo juntos estava acabando. Não faz sentido prolongar essa dor.

Ele, com um amargo sorriso nos lábios, respondeu:

_Talvez você esteja certa. Sempre soube que havia algo errado entre nós, mas nunca imaginei que terminaria assim. Não quero mais prolongar essa agonia, esse desgaste.

Ela assentiu, as lágrimas que ameaçavam cair eram de frustração, não de emoção. Com a voz embargada pelo desânimo, ela completou:

_Quero que isso acabe logo. Estou cansada de tentar, de fingir que está tudo bem.

Ele, resignado, deu um último beijo em sua testa, mas sem ternura, apenas um gesto mecânico, e disse:

_Eu não te agradeço por nada disso. Tudo foi apenas hipocrisia e ilusão. Você é ilusão.

Ele virou as costas, então ela disse:

_Eu me arrependo de termos chegado a esse ponto. Não consigo ser como outrora, e nada voltará a ser como antes. Preciso seguir em frente sozinha.

Ele soltou um suspiro pesado, o coração apertado, mas sem a sensação de felicidade. Redarguiu, com uma voz firme:

_Farei o necessário para esquecer isso tudo. Não há mais amor, se é que houve algum dia, e quero deixar isso claro todos os dias da minha vida.

Ela virou as costas e foi embora, sem olhar para trás. Ele ficou ali, vendo-a se afastar, o coração carregado de um pouco de tristeza muito ressentimento, sabendo que aquilo era realmente o fim, ou talvez o começo...


Não há ninguém aqui, nunca houve!


sexta-feira, 19 de julho de 2024

Uma Noite de Promessas

Série "Diálogos Efêmeros", Nº 3

Ela sorriu e interrompeu a fala dele com um beijo apaixonado, cheio de desejo e carinho. Ele retribuiu com a mesma intensidade, agarrando-a pela cintura e puxando-a para si. O beijo se prolongou, com as mãos dos dois explorando o corpo um do outro. Quando finalmente se separaram para recuperar o fôlego, ele a olhou nos olhos e disse:

_Eu te amo. Desde o momento em que pus os olhos em você, soube que você seria a pessoa certa para mim. E agora que finalmente temos a chance de ficarmos juntos, não quero perder mais tempo.

Ela sorriu, sentindo as lágrimas de emoção brotarem em seus olhos, e em voz embargada respondeu:

_Eu também te amo. Sempre soube que tinha algo especial entre nós, mas nunca imaginei que seria assim. Quero ficar com você, ser sua namorada, sua parceira, sua amante. Quero explorar cada canto do seu corpo, descobrir seus segredos e compartilhar os meus. Quero ser feliz ao seu lado, e fazer você feliz também.

Ele sorriu, beijando-a novamente, desta vez com mais calma e ternura. Os dois se entregaram ao momento, esquecendo do mundo ao redor. Quando finalmente se separaram novamente, ela o abraçou forte e disse:

_Obrigada por me fazer sentir viva novamente. Eu estava tão perdida, tão sem rumo, e você me mostrou um caminho. Não quero mais ficar sozinha, quero ficar com você."

Ele beijou o topo de sua cabeça, sentindo o coração transbordar de felicidade, redarguindo:

_Eu prometo fazer tudo que estiver ao meu alcance para te fazer feliz. Eu te amo, e quero te mostrar isso todos os dias da minha vida."



O amor verdadeiro é tão insolitamente improvável e fantasmagoricamente
ilusório quanto o "calor" do luar de uma noite de inverno.



terça-feira, 16 de julho de 2024

Carta: "Despedida Hipócrita"

Série "Cartas Perdidas", Nº 38

São João Del Rei/MG, 07 de Junho de 1964

"Estimado

Venho, por meio desta, expressar minha profunda gratidão por tudo o que vivemos e compartilhamos. Agradeço sinceramente por todos os esforços despendidos e por cada momento inesquecível que passamos juntos. Foram tempos verdadeiramente memoráveis...

Todavia, venho com pesar anunciar que, infelizmente, não podemos mais prosseguir. Cheguei à conclusão irrevogável de que não desejo mais seguir. Suplico que respeite minha decisão.

Confesso que me preparei para ir ao seu encontro! Fui até a estação, mas, no momento decisivo, encontrei-me paralisada diante do trem, e não subi. Acredito, de coração, que não podemos mais prosseguir. Não consigo ser como outrora, e nada voltará a ser como antes.

Assim, encerro nosso relacionamento aqui e agora. Peço sinceras desculpas por qualquer transtorno que isso possa causar, mas desejo que compreenda que essa decisão me causa uma dor profunda, pois almejei, mais do que tudo, que nossa história fosse diferente. Não queria que o primeiro erro tivesse acontecido.

Algumas coisas podem, talvez, retornar ao que eram, mas outras jamais serão as mesmas. Espero que não guarde ressentimentos e que consiga me compreender. Saiba que tentei, verdadeiramente.

Desde o momento em que você se mostrou insensível enquanto eu estava convalescente, nossa história jamais foi a mesma. Desde então, estivemos em um constante esforço para consertar o que havia sido quebrado, mas sem sucesso.

Peço perdão se cometi alguma falha, mas não posso continuar. Sim, em alguns aspectos, ainda consigo seguir em frente, mas não de maneira plena.

Desejo-lhe tudo de melhor e que Deus o abençoe e guie sua vida. Contudo, rogo que siga seu próprio caminho e seja feliz, sem pra trás olhar. Da mesma forma, prometo que não o farei, pois preciso seguir adiante e não posso viver nessa constante insegurança, que tudo se alterava a cada dia. Lamentavelmente, você mudou tarde demais.

E agradeço por todos os momentos compartilhados, pois, em última análise, eles sempre farão parte da minha história.

Que Deus o abençoe abundantemente!"



Quando um relacionamento se desfaz, aquele que permaneceu leal opta pela solitude até que suas feridas emocionais cicatrizem, enquanto o outro rapidamente se lança em novos enlaces amorosos. Tal comportamento é explicado pela incapacidade de suportar a própria companhia, revelando uma profunda falta de amor próprio e imaturidade emocional. Este indivíduo vagueia em busca de preenchimento sentimental, incapaz de cultivar paciência e introspecção. Em sua jornada, acaba dilacerando corações alheios, pois sua fragilidade emocional o impede de enfrentar a solidão com dignidade. Por outro lado, o ser leal aguarda, em uma espera quase eterna, uma redenção ilusória que, tragicamente, nunca se concretizará.


segunda-feira, 15 de julho de 2024

Não-invencível

Série "Poesias e Devaneios", Nº 117

Em algum momento eu achei, que era invencível,
Mas eu nunca fui,
Nunca fui,
Invencível.

Na vida, curvas inesperadas,
Sonhos e desilusões entrelaçadas.
A família, porto seguro,
Luz em dias escuros.

Relacionamentos, laços frágeis,
Amores intensos, às vezes voláteis.
Nas quedas, aprendemos a levantar,
E a força verdadeira, em nós encontrar.

Nunca fui,
Invencível,
Mas na vulnerabilidade,
Descobri minha verdade.

Verdade crua
Em forma de ácido
Sentir o amargor
Escura luz

Mas eu nunca fui,
Nunca fui,
Invencível!

Em algum momento eu achei, que era invencível,
Mas eu nunca fui,
Nunca fui,
Invencível... Invencível?



"Na vulnerabilidade e fragilidade, encontrei minha verdade."



sexta-feira, 12 de julho de 2024

Nada se simplifica à toa

Série "Reflexões Pessoais", Nº 34

O ato de escrever, de amar, de querer ser algo, de respirar... são atos que carregam uma profundidade inexplorada. Escrever é mais do que apenas colocar palavras no papel; é um reflexo da alma, uma tentativa de traduzir o intraduzível. Amar é uma jornada complexa de entrega e descoberta, uma dança entre o eu e o outro. E querer ser algo, uma manifestação do desejo intrínseco de se encontrar e se definir em um mundo caótico. Até respirar, que parece tão simples e automático, é um testemunho constante de nossa luta pela vida.

Eu duvido que qualquer um consiga colocar todos os desejos e anseios em papel, e que saiba tudo que quer com absoluta clareza. É impossível abarcar a totalidade de nossos sentimentos e aspirações, pois somos seres em constante evolução. Queremos saber o que queremos na vida, mas frequentemente somos inaptos para discernir esses desejos profundos e genuínos. Quem somos e o que desejamos são questões que nos acompanham, e nossa identidade, embora em construção, muitas vezes parece obscurecida pelas incertezas do existir.

Nossa busca por sentido é incessante, mas a clareza nos escapa. Somos um conjunto de potencialidades e contradições, um nada que quer ser tudo e ao mesmo tempo se sente nada. A força que temos para ser algo está constantemente sendo testada e, às vezes, diminuída pelas pressões externas e internas. Na busca por identidade e propósito, enfrentamos uma batalha contínua contra a confusão e a indefinição.

Vivemos numa era onde a complexidade da vida nos desafia a encontrar simplicidade e clareza. Mas a verdade é que essa simplicidade aparente nunca é alcançada sem esforço. Cada ato que realizamos, cada decisão que tomamos, carrega consigo uma série de reflexões e incertezas. Assim, a jornada de autoconhecimento e realização é permeada por momentos de dúvida e introspecção, mas é essa luta que nos define e nos molda.

No final, somos seres em eterna construção, e é essa incompletude que nos impulsiona a continuar. O desejo de simplificar o que é complexo não é um ato de fraqueza, mas uma tentativa de encontrar sentido e propósito em um mundo que raramente oferece respostas claras.



A busca incessante por autoconhecimento e clareza é uma jornada complexa e contínua,
onde a simplicidade aparente nunca é alcançada sem esforço, refletindo a profundidade
de nossa existência em constante evolução.



quinta-feira, 4 de julho de 2024

Intensidade, havia!

Série "Poesias e Devaneios", Nº 116

Intensidade, havia, em meu olhar,
Era o que? Talvez nem sei expressar,
A chama ardia, sem cessar,
Impossível, em nós, de apagar.

Sinto tua falta, é real,
Segui meu caminho, sem olvidar,
Me abri com alguém, suposta fraude, a ser igual,
Mas em ti, sempre, sigo a indagar.

Em ti não esmoreci, é verdade,
Sem duvidas, ao meu lado, és presente,
Agora, palavras são vontade,
Desejo assim, me expressar novamente.

Se esta carta a ti chegar,
Meu pedido é claro.
Que voltes a falar,
A dividir o existir que lhe é raro.

Se partilha teu existir,
Mas és livre, tua escolha,
E não o desamparo,
Decisão de consentir.

Intensidade, talvez há,
Lembrança, pó e momento
Laço não desvanecerá,
Permanece o sentimento.

Intensidade, havia, em meu olhar,
Era o que? Talvez nem sei expressar,
A chama ardia, sem cessar,
Impossível, em nós, de apagar.


"Intenso olhar ardente, chama perpétua, vínculo inerrável."




terça-feira, 2 de julho de 2024

Carta: "Delusão Ébria"

Série "Cartas Perdidas", Nº 37

Rio Claro/SP, 07 de Março de 1997

Sim, sempre notei seu profundo ceticismo à minhas investidas tímidas, de forma ainda que subliminar. Sempre percebi o caminho inevitável que se tornou esse lugar. Essa maldita capital! Aquela cidade que simplesmente me tornou um enorme beco sem saída, tanto pessoal como profissional. Notei que a melancolia do asfalto quebrado e malcuidado dessas ruas não eram à toa, refletiam o céu, que estava praticamente da mesma cor das tão sofridas ruas e vielas triste desse pedaço esquecido de mundo.

“Mas com você era diferente!” Será?

Nunca foi nada além de ilusão atrás de ilusão... nossa grande e curta ilusão, ou poderia dizer só minha? Somente e unicamente a MINHA ilusão? Só uma visão à longo prazo de algo impossível? Seu sorriso era apenas idílico? Ou real? Ou uma mistura dos dois, uma mistura profana dos dois mundos que na verdade é um só?

É você, e sim, fantasiei demais.

Pra coroar esse enorme bolo com uma pequena cereja, fingi ser um grande piadista, fazendo gracejos, fingindo ser uma mistura de “Don Juan” com “Mark Darcy” em alguma comédia romântica idiota de baixo orçamento e bilheteria pior ainda de Holywood... Sim, resultados previsíveis, suas respostas vagas, prolixas, esquivantes e tão profundas como uma poça de água, são o mínimo esperado de uma paixão rápida esquentada em um micro-ondas em um final de semana qualquer, muito embora pra mim teria sido real, teria te amado assim com a mesma intensidade que os personagens idiotas do filme, mas na vida real, e de verdade, com força e intensidade!

Te amaria com todas as forças que escrevi nesse papel e te amaria com todas as forças que atravessei o país inteiro pra poder só te dar um "bom dia", o qual nunca pude te dar por pura distração minha".

Te amaria! Sem nenhuma dúvida!

Mas e quando vier falar comigo, serei enfático: “Me desculpe, não sei onde estava com a cabeça, acho que tinha bebido um pouco, te peço desculpas!”.




"Me desculpe, não sei onde estava com a cabeça, acho que
tinha bebido um pouco, te peço desculpas!”.