terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Dois Mil e Vinte e Quatro

"Poesias e Devaneios", Nº 134

Vá, e não ouse retornar,
Não traga mais sombras para este lugar!
Deixaste marcas na pele e no coração,
Marcas ruins, de dor e de retidão.

Não há pena, mas também não há rancor,
Esta volta ao redor do sol foi só dissabor.
Lições ficaram, mas a que custo?
Te quero distante, teu peso é injusto.

No tempo e no espaço, desejo-te perdido,
Que teu eco se apague, teu rastro esquecido.
Te digo adeus sem olhar para trás,
Carrego esperança, e nada mais.

O sol renasce, traz nova estação,
Leva contigo a mágoa, deixa o perdão.
Te deixo nas páginas que não vou reler,
Adeus, passado, é hora de renascer.

Adeus, enfim, teu ciclo findou,
Dois mil e vinte e quatro, teu tempo passou.
Recebo o futuro com alma aberta,
Pois cada adeus é uma porta certa!

Vá, e não ouse retornar!



O sol renasce, traz nova estação,
Leva contigo a mágoa, deixa o perdão.


sábado, 28 de dezembro de 2024

O Conto do Auto-consolo

"Reflexões Pessoais", Nº 37

Estamos rodeados por indivíduos que frequentemente recorrem a justificativas e consolos para lidar com os próprios insucessos, utilizando frases motivacionais que, em sua essência, reconhecem como ilusórias. Essa prática se intensifica ao confrontarem pessoas em situações mais favoráveis, pois criar uma ilusão reconfortante muitas vezes parece mais simples do que enfrentar as adversidades e empenhar-se em superá-las.

Um exemplo recorrente é a afirmação de que "pessoas ricas são infelizes", talvez utilizada como um mecanismo para minimizar as dificuldades de uma vida com menos recursos. Tal pensamento, frequentemente sustentado por casos isolados, como o de um indivíduo abastado que enfrenta problemas de saúde, desconsidera que, de maneira geral, pessoas com maior poder aquisitivo tendem a desfrutar de melhor qualidade de vida e relacionamentos mais estáveis. Enquanto isso, na pobreza, desafios relacionados à escassez, doenças e problemas familiares são proporcionalmente mais presentes e impactantes.

Outro subterfúgio comum é a ideia de que "tudo é perigoso", utilizada para justificar comportamentos imprudentes. Essa noção muitas vezes equipara situações de risco real, como conduzir uma motocicleta sem capacete, a atividades estatisticamente mais seguras, como viajar de avião. Frases como "era a hora dele" servem para eximir responsabilidades, transferindo a culpa ao destino e ignorando o papel ativo que nossas escolhas desempenham.

Também é frequente a utilização de exemplos de pessoas saudáveis que tiveram mortes súbitas como argumento para reforçar a ideia de que "pessoas saudáveis também morrem". Embora a mortalidade seja inevitável, esse raciocínio é frequentemente empregado como uma forma de justificar hábitos prejudiciais. Histórias como a do "avô fumante que viveu até os 100 anos" são repetidas como exceções transformadas em regra, ignorando as evidências claras de que hábitos saudáveis não apenas prolongam a vida, mas garantem maior bem-estar.

O ser humano, por vezes, encontra consolo em narrativas que suavizam a responsabilidade por suas escolhas. Frases como "temos que aproveitar, não sabemos o dia de amanhã" são utilizadas como justificativa para ações imediatistas. Contudo, a realidade é que, na maioria das vezes, o amanhã chega — trazendo consigo as consequências das decisões negligentes, seja na forma de uma ressaca emocional, física ou financeira, que reflete o impacto de uma visão simplista sobre a vida.



Não aja como se você tivesse dez mil anos para jogar fora. A morte está ao seu lado. 


quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Não existe o "Pra sempre"

"Poesias e Devaneios", Nº 133

Não existe o "pra sempre" além do próprio vazio,
Um eco que se perde em noites de solidão.
Promessas dissolvidas no breu do desvario,
Deixando só silêncio em meio à escuridão.

O Tempo, velho sábio, devora o que é eterno,
Transforma em pó as juras feitas com fervor.
Coração que outrora era, quente e também terno,
Agora só reside a sombra e o rancor.

O pra sempre é miragem, é um sonho fugaz,
Que a vida, com suas dores, insiste em desfazer.
A eternidade, por si só é, um momento audaz,
De acreditar que algo pode nunca morrer.

No vazio que sobra, há um novo alvorecer,
Uma ideia que se desmancha, mas outra vai florescer
E o que finda não morre, vai apenas renascer,
Pois o pra sempre, no fim de tudo, é viver e aprender

Não existe o "pra sempre" além do próprio vazio,
Um eco que se perde em noites de solidão.
Promessas dissolvidas no breu do desvario,
Deixando só silêncio em meio à escuridão.




"Agora está tão longe, vê
A linha do horizonte me distrai"


segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

O Cheiro Dela

"Poesias e Devaneios", Nº 132

O cheiro era bom, desses que ficam na alma,
Um aroma que abraça, que nunca se esquece.
Talvez fosse dela, ou só da calma
Que vinha dos seus braços onde o mundo adormece.

Era cheiro de saudade, com intenção de ficar,
Um perfume que a memória insiste em guardar.
Cheiro de mulher, desejo a pairar,
Algo que, em mim, parecia se encaixar.

A gente se abraçava mais do que o costume,
Num tempo que parava, só pra nos caber.
E o beijo tardava, mas não foi amargume,
Era sonho palpável, quase a acontecer.

Hoje ilusão, mas tão bem desenhada,
Pelo sistema límbico, guardião de enganos.
Baseada no real, assim foi moldada,
Reflexo perfeito, de outros tantos planos.

Só que o cheiro ficou, e nunca vai partir,
Uma lembrança tão forte, que toca e me aquece.
Se era dela ou de sonhos, pouco importa definir,
Pois ainda é o melhor que em mim permanece. 


_“Eu vou dizer o que você quer ou vou dizer o
que não quer ouvir, e é isso que você quer saber?
Você quer saber a verdade?"