sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Maleficência Intrínseca

"Reflexões Pessoais", Nº 38


O ser humano, em sua essência, gosta de se ver como uma criatura movida por sentimentos nobres, por laços profundos, por valores imutáveis. Mas basta um olhar mais atento para perceber que, por trás dessa fachada, há uma engrenagem fria, movida pelo utilitarismo e pela conveniência. O respeito e a utilidade andam lado a lado — e quando um homem deixa de ser útil, ele se torna descartável, uma peça obsoleta em um jogo onde a sobrevivência depende de se manter relevante.

As relações humanas, muitas vezes mascaradas por discursos sobre amor e companheirismo, escondem uma lógica brutal: enquanto houver algo a oferecer, a presença é bem-vinda. Mas basta um momento de fraqueza, uma perda de status ou uma falha imperdoável, e aquilo que antes era valorizado se torna um peso morto. O vínculo que parecia inquebrável se dissolve no ar, como se nunca tivesse existido.

O Amor Ágape — aquele amor incondicional, que resiste ao tempo e às circunstâncias — é um ideal cada vez mais distante. No mundo real, o imediatismo reina. Tudo precisa ser intenso, rápido, descartável. Quem não acompanha esse ritmo frenético é deixado para trás, substituído sem hesitação.

A superficialidade se tornou a regra. Aparências importam mais do que essência, e a profundidade das conexões é sacrificada em nome de prazeres momentâneos. O resultado? Uma humanidade cada vez mais vazia, girando em torno de si mesma, incapaz de construir algo que dure além do próprio reflexo.

A ironia é que, ao descartar o outro, o ser humano também se condena. Quem faz do mundo um jogo de interesse se torna vítima das próprias regras. Um dia, todos são jovens e desejados; no outro, são apenas memórias esquecidas. Aqueles que usaram outros como degraus para subir encontram, no fim, apenas o vazio de uma escada sem destino.

O que resta para quem vive apenas de conveniências? O tempo, implacável, cobra seu preço. E quando a utilidade se esgota, quando os rostos novos substituem os antigos, quando não há mais nada para oferecer... o que sobra? Apenas a fria indiferença do mundo, refletindo de volta tudo aquilo que foi cultivado. 

Apenas um grande NADA! E todos nós nos afogaremos na mediocridade.


"O perigo e falsidade dos amores falsificados
existem na proporção direta de sua beleza e fascínio."





4 comentários:

  1. "Se o remédio for te esquecer
    Eu vou continuar doente
    É que tem saudade acumulada demais
    Desejo demais, tem tudo demais
    Me responde, me atende, me ajuda
    Só você é minha cura"...

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  2. Por favor, não aceita essa comentário. Mas é só pra te pedir, por favor, que apague esse meu comentário anterior na publicação. Foi um ímpeto e eu não estava em sã consciência. Escrevi um texto grande e reflexivo sobre a sua postagem, e enviei porcaria. Obrigada 💜

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  3. Eu acreditava no "amor", achava que poderia acreditar talvez, mas hoje já não sei

    parabéns pelo texto Eduardo

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