quinta-feira, 27 de março de 2025

Platão de volta à Caverna

"Poesias e Devaneios", Nº 143

Tudo muda, tudo passa, é constante,
Mas às vezes é preciso recuar,
Não por medo, não por ser hesitante,
Mas para melhor se preparar.

Lá fora, Platão, o que encontrou?
Além de dor, ruínas, pranto?
Fogo que arde e tudo queimou,
Deixando no peito um negro manto.

As luzes brilhavam, mas não eram o céu,
E sim as chamas do próprio inferno,
Queimando a pele, rasgando o véu,
Num ciclo cruel, frio e eterno.

Foi você quem se quebrou, quem caiu,
Não os outros, não o destino,
Se entregou à dor, ao desvario,
Agora é sombra no próprio caminho.

Volte à caverna, mas não para estagnar,
Ali se fortalece, ali se refaz,
Pois o fogo ensina, o fogo a forjar,
Espírito forte que ruge voraz.

Pequeno agora, mas logo gigante,
Como o ferro se torna aço no braseiro,
Mundo te espera, segue avante,
Com alma forjada em fogo guerreiro!

AGORA PEQUENO
DEPOIS, GRANDE!


SIC PARVIS MAGNA!

segunda-feira, 17 de março de 2025

O impacto da ausência

"Reflexões Pessoais", Nº 41

A ausência carrega um peso silencioso, um vazio que se instala onde antes havia presença. Não importa quanto tempo passe, há marcas que nunca se apagam, lacunas que nunca se preenchem. Quando alguém que um dia foi importante se ausenta, seja pela distância, pelo esquecimento ou pela fatalidade, a vida parece reorganizar-se em torno desse buraco, mas nunca de fato o preenche.

No início, sentimos a falta como um espinho fincado na pele, uma dor aguda e constante que nos lembra, a cada momento, do que se foi. Com o tempo, o espinho parece se tornar parte de nós, atenuando a dor aparente, mas permanecendo ali, silencioso, sempre pronto a se fazer sentir ao menor toque. Certos lugares, certas músicas, certos cheiros nos transportam para o passado e, por um instante, somos invadidos por aquilo que foi, pelo eco de risadas, por conversas que não mais existem.

Mas há uma ausência ainda mais profunda, mais devastadora: a de si mesmo.

Pouco a pouco, podemos nos perder, como quem caminha sem perceber que está deixando pedaços de si pelo caminho. Cada decepção, cada renúncia, cada silenciamento nos distancia um pouco mais daquilo que já fomos, até que, ao nos olharmos no espelho, mal reconhecemos quem nos encara de volta. A voz que um dia falava com convicção torna-se um sussurro hesitante, e os sonhos que ardiam no peito transformam-se em cinzas de desejos esquecidos.

Perder-se de si mesmo é um processo lento e silencioso, tão imperceptível quanto uma vela se apagando ao longo da noite. No início, são apenas pequenas concessões, pequenos esquecimentos de quem somos. Depois, são escolhas que não nos representam, caminhos que não reconhecemos. Até que, um dia, percebemos que nos tornamos um eco, uma sombra pálida daquilo que um dia fomos.

Talvez a maior luta seja essa: resgatar-se antes que seja tarde. Antes que a própria essência se dissolva na rotina, nos compromissos, nas cobranças. Antes que a ausência de si se torne definitiva. Pois, no fim, não há vazio maior do que olhar para dentro e não encontrar mais nada.

Então, um dia olhamos no espelho e não nos reconhecemos mais. O brilho no olhar se apagou, os sonhos perderam o sentido, os dias se tornaram uma sequência repetitiva de obrigações sem propósito. Não somos mais quem éramos. Restam apenas fragmentos espalhados, pedaços desconexos de uma identidade que se esfarelou ao longo dos anos. O que antes era um ser completo agora é um reflexo distorcido, uma sombra que vaga sem rumo, um eco fraco daquilo que um dia fomos.

Mas será que a ausência realmente existe? Se tudo o que somos, tudo o que vivemos, deixa marcas invisíveis no tempo, então nada jamais se perde por completo. O universo nasceu do vácuo, do aparente nada que, em sua essência, continha todas as possibilidades. O silêncio carrega ecos do que já foi dito, a escuridão guarda vestígios de cada luz que já brilhou, e até mesmo o vazio está repleto de memórias que continuam a reverberar. Assim, a ausência não é um fim, mas uma transição, uma metamorfose da presença em algo que persiste além da forma, além do toque, além do olhar.

Se o universo veio do vácuo e continua em expansão, então não há lacunas definitivas. Da mesma maneira, aquilo que pensamos ter perdido permanece em nós de formas sutis, seja nas lembranças que nos moldam, nas cicatrizes que nos definem, ou nos instantes em que, sem perceber, repetimos gestos, palavras e sentimentos daqueles que partiram. Não somos feitos de ausências, mas de transformações. E, talvez, a maior revelação seja essa: ninguém se perde para sempre, nada some por completo. O que fomos, o que amamos, o que nos tocou... tudo continua existindo, ainda que de uma maneira diferente.

 


"Não existe nada alem de si, pois isso que se tornou: NADA"



sexta-feira, 14 de março de 2025

O Outro "Eu"

"Reflexões Pessoais", Nº 40

O outro eu de cada um é a nossa alma, receptora PASSIVA  de tudo que nosso eu carnal e emocional faz ATIVAMENTE. Só os que CALAM este "eu" PODEM escutar o outro eu que é a alma.  E o mais impressionante. É o outro eu , ALMA, que é o eterno...esse eu aqui é só a chance para que cada um faça o melhor com o pior que lhe suceda. Não como age, mas como reage é o que define quem somos....cale-se e ouça um pouco seu outro eu...

E quando enfim silenciamos, percebemos que esse outro eu sempre esteve ali, observando, sentindo, esperando que a tormenta do externo cessasse para se manifestar. Ele não grita, não impõe, não exige. Apenas sussurra, esperando que a nossa inquietação se dissolva na escuta. Mas poucos ouvem. A maioria se perde no ruído do próprio ego, nas correntes das emoções que oscilam sem rumo, esquecendo-se de que há algo maior, mais profundo, que nunca se abala.

O outro eu não busca glória, não anseia por reconhecimento. Ele apenas quer que aprendamos. Cada dor, cada perda, cada desilusão não são castigos, mas lições. E é na forma como as acolhemos que moldamos nossa essência. Revoltar-se é fácil, mas transformar a ferida em sabedoria exige entrega. Quando aceitamos o pior sem nos tornarmos piores, damos voz ao nosso eu eterno. 

No silêncio, a alma nos revela verdades que o eu terreno teme encarar. Mostra que não somos vítimas, mas autores; que não somos condenados, mas responsáveis. Ensina que nada do que tentamos segurar nos pertence, exceto a forma como nos tornamos diante do que se esvai. Tudo se desfaz, menos a essência que cultivamos no invisível... no íntimo... bem lá no fundo, se escondendo de tudo e todos, e dos espinhos circundantes!

E assim seguimos, entre quedas e recomeços, entre erros e aprendizados, sempre tendo a chance de ouvir ou ignorar. Mas aqueles que ousam calar para escutar, descobrem que o outro "eu" nunca esteve distante. Ele sempre foi o que foi! Sempre esteve aqui...

Sempre estará!


Sempre seremos UM


segunda-feira, 10 de março de 2025

A Terceira Flor

"Poesias e Devaneios", Nº 142

Eram duas,
Mas não só duas,
Eram três,
Uma era nua.

Queria,
Haveria,
Queria haver ou
Haveria um dia?

Quer, ou não quer,
Mas deseja,
E não sabe
Se acende ou queima.

A terceira era,
Para o rio levar,
A terceira nem mesmo
Sabia afogar.

O tempo girava,
Mas nunca voltava,
E o que existia
Já se apagava.

Duas se foram,
Uma ficou,
Ou talvez nenhuma,
O rio levou.

Eram duas,
Mas não só duas,
Eram três,
Uma era nua.

O rio levou...




"Era pra ser mas não era pra existir"

terça-feira, 4 de março de 2025

Há um Peso das Preocupações do Passado, ou Sobre os Anos 2000

"Reflexões Pessoais", Nº 39

De relance olho para os anos 2000 e me pergunto: valeu a pena toda aquela preocupação? E quanta! Todas as noites em claro, os medos exagerados, as inseguranças que pareciam gigantescas? Hoje, com a distância do tempo, percebo que não. E de forma nenhuma! Foi uma perda de energia, de tempo, de momentos que poderiam ter sido vividos com mais leveza. O que parecia crucial na época se dissolveu como fumaça, e tudo o que restou foram as experiências, os aprendizados e, principalmente, a constatação de que muitas das nossas angústias são fabricadas por nós mesmos.

Essa percepção me serve de incentivo hoje, supostamente.. su-pos-ta-men-te! 

Me ensina a não carregar pesos desnecessários, a não me prender tanto ao que não posso controlar. O futuro, que antes era fonte de ansiedade, agora se apresenta como uma estrada aberta, cheia de possibilidades. Aprendi que, em vez de temer o que está por vir, é melhor construir algo sólido no presente, sem deixar que o medo do incerto roube a paz do agora.

Mas a verdade é que, por mais que eu tente me convencer de que a preocupação é inútil, sei que outras virão. A vida nunca se torna mais simples, apenas muda os desafios. O que me tirava o sono no passado pode parecer bobo agora, mas novas preocupações sempre tomam o lugar das antigas, como um ciclo interminável de angústia. Talvez essa seja a natureza da existência: um eterno correr atrás de certezas que nunca chegam.

E se no futuro eu olhar para este momento e perceber que, mais uma vez, desperdicei tempo com esperanças vãs? Talvez a única verdade seja que estamos todos presos a essa ilusão, tentando encontrar sentido em um jogo que nunca esteve sob nosso controle.

Talvez a grande ironia da vida seja justamente essa: a gente passa anos tentando aprender com os erros do passado, tentando evoluir, tentando se libertar dos medos. Mas, no fim, tudo se repete, apenas com novos rostos, novas situações, novos cenários. O sofrimento muda de forma, mas nunca desaparece. A esperança pode ser um combustível, mas também pode ser um fardo, um peso que nos empurra para frente apenas para nos fazer cair no mesmo vazio de sempre.

Então me pergunto: se tudo é passageiro, se as preocupações e esperanças de hoje vão parecer irrelevantes amanhã, qual o sentido de continuar tentando? Mil anos são como um dia? Nascemos como mortos e vivemos como se nunca tivéssemos nascido? Ou será que a única lição real da vida é que não há lição alguma, apenas o inevitável ciclo de nascer, temer, lutar e, por fim, desaparecer? Tudo tem um fim um dia, até nossa respiração!

Tudo tem um fim um dia...


"O futuro vai ser tão brilhante
que nem vamos precisar de olhos para ver"