"Poesias e Devaneios", Nº 149
Cada rangido no assoalho, uma saudade que não sabe morrer,
Cada sombra que se arrasta, um pedaço de alguém que ficou.
Ali habita o que não partiu por completo —
não um espírito de terror,
mas de ternura, de espera, de um abraço nunca mais dado.
Não quer assustar.
Quer lembrar.
Lembrar o cheiro de madeira molhada depois da chuva,
o som de gargalhadas no andar de cima,
o calor de mãos entrelaçadas no fim de uma tarde.
Quando a presença chegou,
com passos leves e olhos que enxergam além do véu,
trouxe algo que nem a eternidade pôde apagar:
a sensação de pertencer.
Não limpou apenas os cantos empoeirados.
Iluminou memórias.
Fez o que ali estava sentir-se menos vento, mais humano.
Menos ausência, mais alguém.
E por um instante encantado — o tempo curvou-se.
Foi carne, foi riso, foi toque.
Foi suspiro, foi coragem, foi espanto.
E dançaram.
A música veio do nada e de tudo,
e no giro lento daquela valsa esquecida,
foi só felicidade.
Pela última vez.
Porque quando a luz chegou,
tudo voltou a ser o que sempre foi:
lembrança.
Mas agora havia quem se lembrasse.
E isso — isso era o suficiente.
O SUFICIENTE!
Adeus.
"Eu implorei e implorei para meu pai me dar este trenó, mas ele agiu como se eu nem
pudesse tê-lo, porque eu não sabia andar nele. Mas então, uma manhã, desci para tomar café
da manhã e lá estava ele, só para mim, sem motivo algum. Peguei-o e fiquei andando de trenó
o dia todo. E meu pai disse: "Chega". Mas eu não conseguia parar, estava me divertindo muito.
Ficou tarde, escureceu, ficou frio... e eu fiquei doente, e meu pai ficou triste."