sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Soneto do Esquecimento

"Poesias e Devaneios", Nº 153

Sobre minha memória — ainda que não tão cedo —
ela me trai solenemente ao me olvidar:
amores nunca vividos, porém sentidos…
Sobre minha vida, então, só posso lamentar
que cheguei a um ponto… o ponto de não retorno,
e ao ponto que não devo retornar.
Não vou nem tentar lembrar;
algumas coisas, atitudes, ações e sentimentos
foram dissolvidos — maresia na atmosfera.
É sobre sentir, mas nunca foi sobre
não ter lembrado que um dia esqueci…
ou esqueci mesmo?

É melhor nem tentar —
ou, se tentar, não corroer o interior:
somos basicamente quânticos,
pequenos seres de moléculas,
nosso cérebro, a máquina mais complexa
já imaginada no Universo.
Um átomo fora do lugar
muda toda uma história de vida:
do feliz ao triste, do leve ao trágico.
Não há como entender sem interferir no todo —
eis o princípio quântico que nos norteia,
querendo ou não.

Então, quando eu sentir saudades,
não saberei de quem.
Minha mente já me trai;
nessa altura, não posso contar comigo mesmo,
mas sim com Shakespeare e seu eterno Soneto 12:
sofrer e sofrer e entender que o Tempo não volta.
Ele é implacável,
e as eternas “viagens” temporais
sempre foram fruto de uma mente convalescente,
cansada de sofrer e tentar,
depois sofrer, depois tentar de novo
e, no fim, desistir de tentar por medo de sofrer.

Antes de ao menos tentar lembrar,
tenho que me certificar
do quão fundo aquilo me feriu.
As lembranças boas são efêmeras,
mas as ruins… elas são perenes.
Pois o Gato de Schrödinger nunca morreu,
porém sempre esteve morto;
assim como nós, que nunca morremos
e um dia, sim, morreremos —
mas sempre estivemos mortos e vivos também.
E, por isso,
sempre viveremos.


Sempre estivemos mortos... e vivos também!
E, por isso, Sempre viveremos!



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