"Poesias e Devaneios", Nº 154
Às vezes olho e vejo, o que nunca terei,
E sei — jamais, nem por um véu, terei.
Como a lua, distante, posso só mirar,
Brilho que toca, não posso alcançar.
Que penso ter, também me escapa,
Miragem em mares de capa.
Ter é sonho de reinos distantes,
De terras veladas, lendas errantes.
E nunca tive — sinal tão certo,
Que o nada é o mais encoberto.
Querer é inútil, promessa vazia,
Na alma só resta melancolia.
Sem nada ter, apenas sendo,
Sendo! Paz do vazio, compreendo.
Pois muito querer é tecer e perder,
E no fim, nem a si se poder ter.
Perder a si — perda completa,
Fim da estrada sublime secreta.
Quem busca demais, se desfaz, enfim!
E o que resta: o nada dentro de mim.
Às vezes olho e vejo, o que nunca terei,
E sei — jamais, nem por um véu, terei.
Como a lua, distante, posso só mirar,
Brilho que toca, não posso alcançar.
