"Poesias e Devaneios", Nº 136
Sonhei com as maravilhas da vida!
Guardadas nos corações aquecidos pelo amor,
Nos gestos silenciosos das almas sóbrias,
Que, um dia, conheciam o sabor da completude.
Busco as revelações que os sagrados murmúrios
Derramaram sobre os imprudentes em suas brasas frias,
Sob raios de sol que se dissipam como ecos,
Sobre lagoas de sangue negro e folhas de faia no outono.
Mas tudo se residirá no esquecimento!
O sofrimento eterno nasce na ignorância dos homens,
Que escavam em seus corações apenas para encontrar
A ilusão de uma riqueza em um mundo que sangra.
Esfolam seu dorso com facadas de prata,
Agradecendo com brutalidade a dor que lhes fere,
Enquanto tudo que possuem se desfaz como névoa,
E o tempo os lança ao vazio de sua própria sombra.
A beladona dança entre as piscadas honestas,
Sombras destilando pragas recém-nascidas,
O calor que devora é o ventre dos antigos sonhos,
Antes que a maldade moldasse seu rosto eterno.
Mas tudo se residirá no esquecimento!
O sol bate como tambores nos corações,
Um som surdo devorando a memória,
Um ruído que consome o próprio eco!
Me esqueçam! Me esqueçam! Me esqueçam!
Gravem meu nome em uma concha maldita,
E peço apenas o mais sublime presente:
O alívio sereno do esquecimento absoluto.
Pra quem merece, pra quem merecerá!
E assim proclamo: tudo será esquecido!
E em um grito que rompe o silêncio,
Rogo mais uma vez:
Me esqueçam! Me esqueçam! Me esqueçam!
E pra que, a ultima vez, não fui claro o suficiente:
Me esqueçam! Me esqueçam! Me esqueçam!