quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Ostrakon

"Poesias e Devaneios", Nº 136

Sonhei com as maravilhas da vida!
Guardadas nos corações aquecidos pelo amor,
Nos gestos silenciosos das almas sóbrias,
Que, um dia, conheciam o sabor da completude.

Busco as revelações que os sagrados murmúrios
Derramaram sobre os imprudentes em suas brasas frias,
Sob raios de sol que se dissipam como ecos,
Sobre lagoas de sangue negro e folhas de faia no outono.

Mas tudo se residirá no esquecimento!
O sofrimento eterno nasce na ignorância dos homens,
Que escavam em seus corações apenas para encontrar
A ilusão de uma riqueza em um mundo que sangra.

Esfolam seu dorso com facadas de prata,
Agradecendo com brutalidade a dor que lhes fere,
Enquanto tudo que possuem se desfaz como névoa,
E o tempo os lança ao vazio de sua própria sombra.

A beladona dança entre as piscadas honestas,
Sombras destilando pragas recém-nascidas,
O calor que devora é o ventre dos antigos sonhos,
Antes que a maldade moldasse seu rosto eterno.

Mas tudo se residirá no esquecimento!
O sol bate como tambores nos corações,
Um som surdo devorando a memória,
Um ruído que consome o próprio eco!

Me esqueçam! Me esqueçam! Me esqueçam!

Gravem meu nome em uma concha maldita,
E peço apenas o mais sublime presente:
O alívio sereno do esquecimento absoluto.
Pra quem merece, pra quem merecerá!

E assim proclamo: tudo será esquecido!
E em um grito que rompe o silêncio,
Rogo mais uma vez:
Me esqueçam! Me esqueçam! Me esqueçam!

E pra que, a ultima vez, não fui claro o suficiente:

Me esqueçam! Me esqueçam! Me esqueçam!



"Gravem meu nome em uma concha maldita!"






sábado, 4 de janeiro de 2025

Siga sua vida, vá pra casa!

"Poesias e Devaneios", Nº 135

Vá, vá em frente, siga sua missão,
Aos poucos, todos mostram quem são.
Seja firme, não se deixe enganar,
Os falsos sempre acabam por se revelar.

Deixe a luz em seu peito brilhar,
Seja você, não tente mudar.
A liberdade é sua, abrace com fervor,
E use Deus como seu condutor.

Caminhe ao Ilê, seu destino buscar,
Não deixe ninguém sua mente dobrar.
Faça do seu coração seu verdadeiro lar,
E da sua força, um farol a iluminar.

Não se prenda às correntes da ilusão,
Seja o dono único do seu coração.
A verdade em você é a maior vitória,
Escreva com coragem a sua história.

Então vá, sem medo, com fé no olhar,
A estrada é sua, não deixe de andar.
Seja você, no caminho ou na solidão,
Deus te guiará, és tua própria razão.

Vá, vá em frente, siga sua missão,
Aos poucos, todos mostram quem são.
Seja firme, não se deixe enganar,
Os falsos sempre acabam por se revelar!



Ogum onilê...Onilê Ogum
A boa do Ilê...Onilê Ogum




terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Dois Mil e Vinte e Quatro

"Poesias e Devaneios", Nº 134

Vá, e não ouse retornar,
Não traga mais sombras para este lugar!
Deixaste marcas na pele e no coração,
Marcas ruins, de dor e de retidão.

Não há pena, mas também não há rancor,
Esta volta ao redor do sol foi só dissabor.
Lições ficaram, mas a que custo?
Te quero distante, teu peso é injusto.

No tempo e no espaço, desejo-te perdido,
Que teu eco se apague, teu rastro esquecido.
Te digo adeus sem olhar para trás,
Carrego esperança, e nada mais.

O sol renasce, traz nova estação,
Leva contigo a mágoa, deixa o perdão.
Te deixo nas páginas que não vou reler,
Adeus, passado, é hora de renascer.

Adeus, enfim, teu ciclo findou,
Dois mil e vinte e quatro, teu tempo passou.
Recebo o futuro com alma aberta,
Pois cada adeus é uma porta certa!

Vá, e não ouse retornar!



O sol renasce, traz nova estação,
Leva contigo a mágoa, deixa o perdão.


sábado, 28 de dezembro de 2024

O Conto do Auto-consolo

"Reflexões Pessoais", Nº 37

Estamos rodeados por indivíduos que frequentemente recorrem a justificativas e consolos para lidar com os próprios insucessos, utilizando frases motivacionais que, em sua essência, reconhecem como ilusórias. Essa prática se intensifica ao confrontarem pessoas em situações mais favoráveis, pois criar uma ilusão reconfortante muitas vezes parece mais simples do que enfrentar as adversidades e empenhar-se em superá-las.

Um exemplo recorrente é a afirmação de que "pessoas ricas são infelizes", talvez utilizada como um mecanismo para minimizar as dificuldades de uma vida com menos recursos. Tal pensamento, frequentemente sustentado por casos isolados, como o de um indivíduo abastado que enfrenta problemas de saúde, desconsidera que, de maneira geral, pessoas com maior poder aquisitivo tendem a desfrutar de melhor qualidade de vida e relacionamentos mais estáveis. Enquanto isso, na pobreza, desafios relacionados à escassez, doenças e problemas familiares são proporcionalmente mais presentes e impactantes.

Outro subterfúgio comum é a ideia de que "tudo é perigoso", utilizada para justificar comportamentos imprudentes. Essa noção muitas vezes equipara situações de risco real, como conduzir uma motocicleta sem capacete, a atividades estatisticamente mais seguras, como viajar de avião. Frases como "era a hora dele" servem para eximir responsabilidades, transferindo a culpa ao destino e ignorando o papel ativo que nossas escolhas desempenham.

Também é frequente a utilização de exemplos de pessoas saudáveis que tiveram mortes súbitas como argumento para reforçar a ideia de que "pessoas saudáveis também morrem". Embora a mortalidade seja inevitável, esse raciocínio é frequentemente empregado como uma forma de justificar hábitos prejudiciais. Histórias como a do "avô fumante que viveu até os 100 anos" são repetidas como exceções transformadas em regra, ignorando as evidências claras de que hábitos saudáveis não apenas prolongam a vida, mas garantem maior bem-estar.

O ser humano, por vezes, encontra consolo em narrativas que suavizam a responsabilidade por suas escolhas. Frases como "temos que aproveitar, não sabemos o dia de amanhã" são utilizadas como justificativa para ações imediatistas. Contudo, a realidade é que, na maioria das vezes, o amanhã chega — trazendo consigo as consequências das decisões negligentes, seja na forma de uma ressaca emocional, física ou financeira, que reflete o impacto de uma visão simplista sobre a vida.



Não aja como se você tivesse dez mil anos para jogar fora. A morte está ao seu lado. 


quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Não existe o "Pra sempre"

"Poesias e Devaneios", Nº 133

Não existe o "pra sempre" além do próprio vazio,
Um eco que se perde em noites de solidão.
Promessas dissolvidas no breu do desvario,
Deixando só silêncio em meio à escuridão.

O Tempo, velho sábio, devora o que é eterno,
Transforma em pó as juras feitas com fervor.
Coração que outrora era, quente e também terno,
Agora só reside a sombra e o rancor.

O pra sempre é miragem, é um sonho fugaz,
Que a vida, com suas dores, insiste em desfazer.
A eternidade, por si só é, um momento audaz,
De acreditar que algo pode nunca morrer.

No vazio que sobra, há um novo alvorecer,
Uma ideia que se desmancha, mas outra vai florescer
E o que finda não morre, vai apenas renascer,
Pois o pra sempre, no fim de tudo, é viver e aprender

Não existe o "pra sempre" além do próprio vazio,
Um eco que se perde em noites de solidão.
Promessas dissolvidas no breu do desvario,
Deixando só silêncio em meio à escuridão.




"Agora está tão longe, vê
A linha do horizonte me distrai"


segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

O Cheiro Dela

"Poesias e Devaneios", Nº 132

O cheiro era bom, desses que ficam na alma,
Um aroma que abraça, que nunca se esquece.
Talvez fosse dela, ou só da calma
Que vinha dos seus braços onde o mundo adormece.

Era cheiro de saudade, com intenção de ficar,
Um perfume que a memória insiste em guardar.
Cheiro de mulher, desejo a pairar,
Algo que, em mim, parecia se encaixar.

A gente se abraçava mais do que o costume,
Num tempo que parava, só pra nos caber.
E o beijo tardava, mas não foi amargume,
Era sonho palpável, quase a acontecer.

Hoje ilusão, mas tão bem desenhada,
Pelo sistema límbico, guardião de enganos.
Baseada no real, assim foi moldada,
Reflexo perfeito, de outros tantos planos.

Só que o cheiro ficou, e nunca vai partir,
Uma lembrança tão forte, que toca e me aquece.
Se era dela ou de sonhos, pouco importa definir,
Pois ainda é o melhor que em mim permanece. 


_“Eu vou dizer o que você quer ou vou dizer o
que não quer ouvir, e é isso que você quer saber?
Você quer saber a verdade?"


sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Soneto da Decepção

"Poesias e Devaneios", Nº 131

Entre papéis desgastados, despejo minhas angústias,
porque o papel é o receptáculo das dores e aceita tudo.
Fizeste o que consideraste justo,
e na tua alma, encontraste um alívio que te bastasse.
Aquele amor que eu dizia ser tão imenso
não era uma invenção, mas um pulsar constante.
Vivia em mim com a força de um sonho,
presente em cada noite, em cada silêncio.
Mas agora, pergunto-me com insistência:
quem realmente habitava esses sonhos?
Tu deixaste de existir naquele instante exato,
quando teus olhos se cruzaram!
Com outra presença ao meu lado.
A mulher que eu conhecia evaporou-se no ar,
desfez-se como névoa ao toque da realidade.
O que restou foi negação, incessante e firme,
e a certeza de que nunca voltaríamos a ser os mesmos.
Na dor desse reconhecimento, algo novo nasce,
uma nova identidade moldada por cicatrizes.
Compreendi, afinal, que amava apenas uma sombra,
mas nessa sombra, descobri a essência do perdão.
Agradeço-te e a Deus por não me ter dado outra chance,
pois amaríamos fantasmas, tu e eu,
presos em uma memória de algo que já não existe!


Com outra presença ao meu lado.
A mulher que eu conhecia evaporou-se no ar,
desfez-se como névoa ao toque da realidade.



  

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Carta: "Há muito de você em mim, mais do que você jamais saberá"

"Cartas Perdidas", Nº 43


Anápolis/GO, 02 de dezembro de 2005

Minha Querida,

Ainda que esta carta jamais chegue até você, sinto a necessidade de escrever. Talvez por um impulso egoísta de organizar os pensamentos ou pelo desejo latente de que, mesmo sem lê-la, você possa, de alguma forma inexplicável, sentir estas palavras. Vivemos tempos estranhos, onde o destino é incerto, e as distâncias parecem insuperáveis, mesmo quando não são físicas.

Eu cometi erros. Sei que não há justificativas suficientes para as minhas atitudes, e talvez nem precise entrar nos detalhes do que motivou minhas ações. No entanto, seria justo que eu tentasse explicar, mesmo que apenas para aliviar a minha própria consciência. Havia inseguranças em mim, tantas delas, e essas sombras invadiram o que deveria ser luz entre nós. Mas isso me levaria a um território muito íntimo, e não sei se estou pronto para desnudar completamente a alma.

O tempo passou – quanto, já não sei ao certo. Mas sinto sua presença dentro de mim. Não como um pensamento obsessivo ou insistente, mas como uma brisa que vem sem aviso, uma lembrança que brota de forma inesperada. E, confesso, ainda sonho com você. Sim, em meio a tantas noites, há sonhos em que o mundo parece tão mais simples porque você está lá.

Não escrevo com o intuito de pedir algo. Não quero reivindicar nada, nem mesmo sua atenção. Quero apenas que saiba – ainda que jamais leia estas palavras – que você marcou meu ser de uma maneira que nem eu consigo explicar.

Sim, eu quero você. Sim, sinto sua falta. Uma ausência que ecoa em lugares profundos, onde as palavras não alcançam. E, no entanto, sou forçado a aceitar que esses sentimentos vivem isolados, privados de qualquer som que possa chegar aos seus ouvidos.

Há muito de você em mim, mais do que você jamais saberá. Mas a verdade é esta: você não saberá. Jamais. Talvez porque essa seja a única maneira de proteger o que ainda resta de mim.

Com todas as palavras que não ouso dizer,


Eu, e tão somente....

"Há muito de você em mim,
mais do que você jamais saberá"





domingo, 24 de novembro de 2024

Interlúdio da Floresta

"Poesias e Devaneios", Nº 130

No véu da névoa, o silêncio ecoa,
A floresta murmura, melodia tão boa.
Cipós tremulam, ritmo do vento,
Segredos antigos, guardam o momento.

Folhas dançam, balé natural,
Luzes filtradas criam um portal.
Trilha sonora, suave e envolvente,
Toca o coração, quem estará presente?

Cada passo, um salto de fé,
Entre inimigos que a sombra revé.
Na calma da música, és um abrigo,
Lembrete sutil: você tem consigo.

Harmonia! Verde e som,
Aventura dura, mas leva ao tom.
De que na jornada, o belo é essência,
Haverá desafio, nova uma experiência.

Oh, doce Interlúdio, encanto sem fim!
Entre brisa cipós, o mistério em mim.
Tu és mais que isso, emoção pura,
Um pedaço da alma, eterna...segura!




Sob o véu da floresta, a brisa se desfaz

sábado, 9 de novembro de 2024

Sobrou uma foto

"Poesias e Devaneios", Nº 129

Sobrou uma foto! Foi sob um sol quente que posamos para uma foto, que era uma pequena capela em uma cidade que estávamos visitando, interior de SP, em uma festa de aniversário.

Sendo assim enfim posamos, e a foto ficou perfeita, um olhando para o outro, em mais uma tarde mais que perfeita.

Mas olha só, tudo perfeito, e era lindo, como ríamos aos sons de risadas alheias, e conversas, e foi seguindo mais uma tarde maravilhosa.

Minhas tensões era coisas banais de assuntos banais, pois eu vivia efemeridades e em uma certeza de falta de dúvida, era eu e você, e sempre contra o mundo...

...contava com isso, e jamais duvidaria, na altura daquela vivência... não duvidaria

Mas não vivemos de futurações e conjecturas e nem pensando em como a gente acha que vai ser tudo...

Hoje só sobra uma sombra e um rancor, que me fez acreditar que existia alguma sobra ou resquício de sentimento, mas na pratica nunca houve e nunca haveria de haver nada de sentimentos da sua parte, pois você nunca foi mais do que uma casca vazia de um grande nada.

Era só uma sombra e uma ilusão, onde depositei o ouro que não tinha, e foi-se todo ouro inexistente, fiquei devendo até o talo em tudo no sentido não monetário.

Eu estou devendo à mim mesmo pela perda da dignidade de me entregar à um ser que nada valeu depois da quinta ordem de grandeza de um nada, mas eu entendo que nada poderia corresponder à alguma coisa, então entendo que você tem um potencial enorme, pois isso ficará marcado como uma mácula.

Mas essa mácula sempre será merecida, pois quem confia é o responsável e fiador por todo advento que vier, e eu fui, então tudo que aconteceu foi responsabilidade prima minha, e você é apenas um subproduto de tudo que eu deixei entrar na minha vida!

Você é tão somente a consequência das minhas escolhas erradas, mas não só a única, só que me lembra e faz lembra-te como um fantasma de erradas escolhas indeléveis, e será sempre assim, um ser que nunca sairá da minha mente, apesar de ela ir "apagando as beiradas", o núcleo ficará, que que é você: um fruto muito ruim e amargo de uma escolha muito errada!

Foi sob um sol quente que posamos para uma foto, que era uma pequena capela em uma cidade que estávamos visitando, em uma festa de aniversário, mas sobrou uma foto!


Sobrou uma foto, e aqui está antes que
jogue-a fora.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Saudade Profana

"Poesias e Devaneios", Nº 128

Sinto saudade de 1993… um ano que, ao olhar de longe, parece ter sido feito de momentos perfeitos. Pelo menos a primeira metade, aquela que carrego com um carinho quase nostálgico, como se fosse uma fotografia amarelada pelo tempo. Tudo era bom, tudo tinha um brilho suave e confortante. Foi uma época em que as coisas simplesmente pareciam fluir, as oportunidades estavam ali, espalhadas pelo caminho, esperando para serem colhidas! E eram muitas! Caíam aos montes pelo chão com um estrondoso barulho, igual jaca madura caindo do pé! Era uma época onde eu me sentia imortal, invencível, quase um super-herói da Marvel!

E eu as deixei passar. Cada uma delas. Oportunidades que surgiram, tão claras, tão óbvias, e que eu, por alguma razão, não soube aproveitar. Desperdicei cada chance como se o tempo fosse infinito, como se o ano não tivesse um fim. E agora, aqui estou, sentindo o peso da saudade de algo que eu poderia ter vivido de forma mais plena, mais presente. Mas na época, não percebi. O que parecia eterno agora se dissolve em lembranças! Me tornei profissional e desperdiçar as melhores oportunidades que a vida me deu! O deus ex machina que me salvou, duas, três ou quatro vezes! Ele sempre estava apto mecanicamente para me salvar, assim como a antiga e original metáfora grega!

Mas, ainda assim, a saudade é forte. Sinto falta daquela leveza, saudade de tudo que foi perdido, enterrado... com ou sem razão! Saudade daquela sensação de que o mundo estava à disposição. Mesmo com os erros, mesmo com as escolhas que não fiz, 1993 me abraça em pensamentos com uma doçura melancólica. Foi tudo tão bom… E a parte mais difícil de aceitar é que, mesmo sabendo que deixei escapar tanta coisa, ainda carrego essa saudade. Uma saudade boa, como se a memória pudesse apagar os tropeços e deixar só os momentos em que tudo parecia perfeito. 

Agora é visar basicamente 1995, e depois de um 1994 quase findado e confuso, cheio de altos e baixos, parece que as coisas finalmente podem finalmente tomar forma. Não posso negar que o esse mesmo 1994 em quase sua totalidade foi basicamente frustrante, cheio de promessas não cumpridas e decepções que me fizeram questionar muito do que esperava. Era como se 1994 tivesse o potencial de ser um grande ano, mas faltou algo — talvez foco, talvez sorte. Eu queria mais, mas tudo parecia se arrastar, sem o brilho que esperava. O que faltou na verdade é a boa e velha VERGONHA NA CARA.

Agora, olhando para 1995, sinto um otimismo cauteloso. Aprendi com 1994 a não criar expectativas irreais, mas também a não me deixar abater pelos contratempos. Vejo que o em breve novo ano tem suas oportunidades, mas estou mais consciente, mais realista. Sei que não basta o ano ser bom por si só, eu preciso estar pronto para agarrar o que vier, mesmo que de forma imperfeita. Se 1993 foi o ano que eu desperdicei e 1994 o ano em que me perdi, 1995 é a chance de encontrar equilíbrio. Não será perfeito, mas talvez, dessa vez, seja o suficiente.



"Não será perfeito, mas talvez, dessa vez, seja o suficiente."








sábado, 26 de outubro de 2024

Sobre o Tempo e suas mentiras, ou sobre Ação e Consequência

"Poesias e Devaneios", Nº 127


Assim, te proponho, simples raciocínio, que te faça buscar outras formas de enxergar!

Nos teus olhos, tão lindos e belos, assim como és bela sua humildade, que é o que te mais falta.

Muito se propôs para entender a dor, e todas Sombra que nos circunda.

E supliquemos que cada um seja o que é, mas sobretudo não lhes falte a verdade.

Que seja sempre ministro de palavra e sindicante de boa-fé

Tal qual o topo, onde muito se observa os gigantes, e muito se inveja os fortes.

Me prosto em um vazio, que não se preenche de tanta coisa além de letras.

E ainda que digas sobre resiliência, algo sobre estoicismo ou frases soltas de Nietzsche

Eu lhe redarguo com mais franqueza, sendo fático e um tanto austero:

Que a vida não faz sentido! E o Tempo aqui nada pode curar!

Tal como bem disse, um dia disse o grande Shakespeare.:

"Sobre tua beleza então questiono, que há de sofrer do Tempo a dura prova"

E sobre minha aura eu mantenho, que há sim de ser o açoite de minhas escolhas.

De forma que não há culpados incorpóreos, que possam ser apontados.

Não há dedos para serem apontados, além de minha infinita arrogância.

Que hoje me é servida assada, em um delicioso banquete de consequências.

E não há de se dizer, em culpar Deus ou praguejar contra o Destino.

Pois a flecha do Tempo é ríspida e sagaz!

E nada de falar da cura, ou que realmente o "Tempo Cura"

Pois muitas ruínas hoje jazem assim, na falsa crença da cura indelével e polivalente do Tempo!

E que Ele por si só é carrasco da vida e algoz do viço.

Sem, contudo, jamais sentir, de si mesmo, pena!

Pois jamais vi algo selvagem sentir pena de si mesmo!

Um pássaro viverá uma vida plena, e cairá morto de um galho um dia!

E sem jamais um segundo sequer ter sentido pena de si mesmo!


"...Quando a hora dobra em triste e tardo toque
E em noite horrenda vejo escoar-se o dia..."


sábado, 19 de outubro de 2024

Bem vindo ao Deserto do Mundo Real!

"Reflexões Pessoais", Nº 36

Não se edifica um castelo sobre um solo arenoso. Uma verdade tão antiga quanto a própria humanidade. Muitas vezes, na pressa de alcançar a felicidade, nos iludimos com o que parece ser solidez, mas não passa de areia fina que cede ao primeiro vento. A sensação de euforia, aquela alegria que sentimos em certos momentos, por mais intensa que seja, pode ser construída sobre percepções distorcidas do que nos cerca. O brilho dos dias bons, quando iluminado por expectativas irrealistas, pode mascarar o fato de que estamos depositando nossas esperanças em bases frágeis.

Toda aquela felicidade, por mais radiante que fosse, era ilusória. Uma falsa percepção do meio circundante. Acreditamos estar vivendo um momento sólido e seguro, mas, na verdade, estávamos sobre o precipício da desilusão. Não era a vida nos pregando uma peça, nem uma "maré de azar" nos atingindo, mas a dura realidade do mundo, o Deserto do Mundo real, onde as condições são implacáveis e as recompensas só vêm para aqueles que constroem suas vidas com paciência e sobre fundamentos firmes.

Agora, reclamar de Deus, amaldiçoar o Universo ou praguejar contra o Destino não adianta. Essas respostas são apenas tentativas vãs de desviar a responsabilidade de onde realmente deve estar: em nós mesmos. O mundo não se ajusta aos nossos desejos e vontades, e é no enfrentamento desse deserto que aprendemos que a vida não é uma sucessão de golpes de sorte ou azar, mas uma teia complexa de escolhas, renúncias e esforços.

O verdadeiro aprendizado vem quando aceitamos que a vida não é perfeita, que o solo é árido muitas vezes, e que construir algo duradouro exige consciência e trabalho. As tempestades, sejam emocionais ou externas, vão passar. E, quando passam, nos deixam a oportunidade de recomeçar – não sobre areia, mas sobre rocha firme.

No entanto, mesmo com todo o esforço para construir sobre bases sólidas, a verdade amarga é que o Deserto do Mundo real não se curva a nossos ideais ou sonhos. Não importa o quanto tentemos ser cuidadosos, o quanto planejemos com precisão, há forças maiores que agem fora de nosso controle, corroendo lentamente até os alicerces mais firmes. A areia se infiltra, as rachaduras aparecem, e por mais que lutemos, às vezes é simplesmente impossível manter tudo de pé. O castelo desmorona, não por falta de tentativa, mas porque o mundo, em sua essência, é imprevisível e implacável.

É difícil aceitar que, apesar de todo o empenho, felicidade duradoura é uma promessa distante, um ideal inalcançável para muitos. O que resta, após tantas quedas, não é um novo começo otimista, mas a aceitação de que o solo em que vivemos raramente é firme o suficiente para sustentar nossos maiores desejos. E talvez a verdadeira lição não seja sobre construir melhor ou mais forte, mas sim sobre reconhecer que, em certos momentos, tudo o que podemos fazer é observar em silêncio enquanto as paredes que ergueremos com tanto esforço caem diante de nós.


"A solução está em não desejar nada, não exigir nada, não esperara nada!"

sábado, 12 de outubro de 2024

Becos Escuros

"Poesias e Devaneios", Nº 126

As ruas gritam nas calçadas, 
Vozes mudas, mas sombrias, 
E os ouvidos, já cansados, 
Não desejam suas agonias.  

No silêncio que consome, 
O  vento leva segredos, 
E nas esquinas do passado, 
Mora o eco dos nossos medos.  

Asfalto guarda histórias, 
De passos que já se foram,
Mas no corredor das noites,
As sombras ainda imploram.  

Dúvida se faz viva,
Escuros becos da mente,
Enquanto o medo se agita,
Esquinas do inconsciente. 

No meio dessa estrada,
Onde o tempo já se esqueceu,
Cidade fala em códigos,
Que o coração não leu.  



"E nas esquinas do passado, 
Mora o eco dos nossos medos."  



sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Pessimismo Realista

"Reflexões Pessoais", Nº 35

Quando tudo se torna previsível, você deixa de se surpreender com o mundo ao redor. A vida, que antes parecia cheia de possibilidades e surpresas, vai perdendo sua cor, se transformando em um ciclo repetitivo e mecânico. As pessoas, as situações, as reações — tudo começa a seguir um padrão tão óbvio que qualquer ilusão de novidade ou emoção se dissolve.

No início, talvez você tente lutar contra isso. Espera que algo mude, que um evento inesperado rompa essa linha reta que se estende à sua frente. Mas, com o tempo, percebe que essa espera é inútil. As pessoas continuam sendo previsíveis em seus interesses mesquinhos, as instituições falham da mesma forma, os relacionamentos são cada vez mais rasos e vazios, e os dias seguem a rotina opressiva. Você não espera mais pelo inusitado, pelo improvável, porque aprendeu que a vida não é um filme com reviravoltas dramáticas. A realidade é outra, pois NÃO há "deus ex machina"!

Esse senso de previsibilidade não é uma escolha. Ele vem com o tempo, com a experiência. É uma constatação amarga, mas inevitável, de que as coisas não vão mudar tanto quanto você imaginava. E quando se dá conta disso, a frustração inicial dá lugar a um cansaço. Não é cansaço físico, mas mental, emocional. Um esgotamento que vem da falta de expectativa. Afinal, como manter o entusiasmo se o fim da história já está escrito, ainda que você não conheça todos os detalhes?

O pessimismo surge não como uma visão derrotista, mas como uma forma de proteção. De que adianta esperar por algo diferente se tudo sempre segue o mesmo curso? 

Se trata de entender que as emoções, as surpresas e o brilho do inesperado se tornaram raros. O ser humano, com seus defeitos e limitações, prova continuamente que o ciclo da previsibilidade sempre vence. E, assim, você se acostuma a não se surpreender mais!

O que resta, então? Apenas aceitar. Viver cada dia sabendo que, no fundo, tudo segue um roteiro previsível. As surpresas são exceções, não regras. Quando você entende isso, para de se frustrar com a mesmice. Afinal, talvez a verdadeira surpresa preceda ausência de qualquer mudança significativa.



"Acostuma-te à lama que te espera!"

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Ode ao Tempo

"Poesias e Devaneios", Nº 125

Era uma vez o Tempo, 
Que passava lento, sem lamento. 
Eu não via o movimento, 
Deixei escapar o momento.  

Tentei, foi pouco, eu sei,
Tentou mais, tentou, observei.
O tempo não vê, o tempo correr,
E quando se vê, já foi, sem poder.  

Perdi tanto, sem perceber,
Querendo agora refazer.
Não adianta tentar mais,
Tempo não volta, nem por sinais. 

Querer nulo, só que é tarde,
E o que foi, não se retarde.
Tentar voltar, e não querer,
Nada adianta, só o viver.

Só agora, resta a lição,
De não perder, o tempo em vão.
Porque o tempo, o que já foi,
É passado, que já se foi.

Era uma vez o Tempo, 
Que passava lento, sem lamento. 
Eu não via o movimento, 
Deixei escapar o momento.  


"Sobre tua beleza então questiono
Que há de sofrer do Tempo a dura prova,
Pois as graças do mundo em abandono
Morrem ao ver nascendo a graça nova."



quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Madrugada no meu olhar

"Poesias e Devaneios", Nº 124

Madrugada no meu olhar,
A chuva insiste em derramar.
O vento bate no portão,
Frio invade o coração.

Fecho os olhos, vou dormir,
Com você começo a mentir,
Dez minutos sem ter,
Parece um ano sem você.

Meu corpo pede o teu calor,
Quer ficar junto, dar amor.
Como a lua e o sol no céu,
Sob o lençol, num doce véu.

Desejos explodem em mim,
Seu beijo ainda está assim,
Queimando como um vulcão,
Roubando a paz do coração.

Não dá mais pra suportar,
Essa saudade a me matar.
Leve embora a dor enfim,
Eu continuo a te amar assim. 

Madrugada no meu olhar,
A chuva insiste em derramar.
O vento bate no portão,

Frio invade o coração.



Não dá mais pra ficar assim
Desejos explodindo em mim
Na boca o gosto do seu beijo
Ainda está me queimando


terça-feira, 17 de setembro de 2024

O Ovo da Serpente

"Poesias e Devaneios", Nº 123

Sucedeu, não esperava
Tantos meses, imaginava?
O ovo da serpente, enfim eclodiu
E algo aqui, pra sempre partiu.

Jamais de você, isso esperei
Tantas promessas, jamais encontrei
Nunca sabemos, o destino trair
Cair na armadilha sem resistir.

Veneno foi rápido, logo agiu
O ovo da serpente, silencioso, eclodiu
Dentro da alma, deixou cicatriz
Que fomos um dia, já não condiz

No olhar, escondido, mentiras, eu sei
Caí efusivo, ébrio fiquei
Agora silêncio, tudo restou
Que um dia pensei, pouco durou

Sucedeu, não esperava
Tantos meses, imaginava?
O ovo da serpente, enfim eclodiu
E algo aqui, pra sempre partiu.




O ovo da serpente eclodiu, revelando mentiras 
profundas e inesperadas.

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Sempre, e Sempre Nunca

"Poesias e Devaneios", Nº 122

Escritas na parede estão 
Não posso mudá-las, desmanchar
Mas estarei ao seu lado então
Quando a chuva, desabar

Quando a tempestade te cercar
Vou te manter sempre seguro
Não deixe sua fé se apagar
Estarei aqui, duradouro e puro.

Fé, que eu vou ficar
Sempre estarei por perto
Saiba que eu vim pra mudar
Nunca deixarei seu deserto.

Encarar o mundo lá fora
Sair da sombra, sentir o calor
Onde quer que  agora mora
Te encontrar e ser teu amor.

Iluminar seu caminho, enfim
Qual for o peso que te faz cair
Nunca desistir, de você assim
Então, sua fé, não partir.

Nos meus olhos, veja a verdade
Profundezas do ser, querer 
Sei que falhei, fui tempestade
Mas jamais vou te deixar esquecer. 

Escritas na parede estão 
Não posso mudá-las, desmanchar
Mas estarei ao seu lado então
Quando a chuva, desabar


"Escritas na parede estão 
Não posso mudá-las, desmanchar"


sábado, 14 de setembro de 2024

Tempo

"Curtas", Nº 50

"Sempre ouço a sua voz quando fecho os olhos e escuto uma música que me lembra a gente. Parece que você ainda está aqui, como se pudesse falar comigo através das notas. Sinto suas mãos toda vez que o vento toca meu rosto, é uma sensação tão familiar, como se o toque suave que você sempre teve ainda estivesse comigo, mesmo de longe.

Seu perfume ainda está impregnado em mim de uma forma inexplicável. Às vezes, sem nenhum motivo, sinto o cheiro e, na mesma hora, me pego suspirando, lembrando de cada momento que passamos juntos. E aquele seu sorriso... Ah, o sorriso largo e sincero foi o que me conquistou de vez. Não consegui resistir. O brilho nos seus olhos quando você sorria era o que iluminava os meus dias.

Agora, eu já não consigo mais esconder o que sinto. Esse amor que começou de mansinho foi crescendo até tomar conta de tudo. Ele fez morada em mim, e por mais que eu tente disfarçar, está claro que não dá mais. Está em cada gesto, cada pensamento.

E a saudade? Eu sinto tanto a sua falta. Mesmo com o tempo passando, a saudade não diminui. Pelo contrário, parece que cada dia que passa ela só aumenta, como se cada lembrança fosse mais viva, mais presente."

Por: J.R.Santana


"Como se cada lembrança fosse mais viva, mais presente."



sábado, 7 de setembro de 2024

Carta: "Deus ex machina"

"Cartas Perdidas", Nº 42


Sao Paulo, 07 de Setembro de 1994

"Ontem, quando conversamos, eu te disse algo que venho sentindo há algum tempo: eu não espero mais por um deus ex machina. Não espero mais por aquele milagre que surge do nada, resolvendo tudo de repente. Não agora, não mais. Já vivi esse tipo de coisa antes, e foi bom, muito bom. Era como se tudo se alinhasse, como se o universo conspirasse a meu favor. Mas, hoje, não espero mais por isso.

Houve épocas em que me deparei com pessoas que, de alguma maneira, me salvaram. Chegaram em momentos críticos, me tiraram de abismos emocionais ou me deram forças quando eu já não tinha mais nenhuma. Foram relacionamentos intensos, cheios de paixão e de uma espécie de urgência, como se fossem a última chance de encontrar sentido em tudo. E, naquele momento, fizeram sentido. Foi profundo, arrebatador. Eu me joguei de cabeça, e vivi tudo o que havia para viver.

Mas agora, algo mudou. Meu tempo para esperar que alguém me salve acabou. Não que eu tenha perdido a fé em encontros transformadores ou que tenha me fechado para novas experiências. Não é isso. Mas, hoje, eu entendo que a vida não é sobre ser resgatado por outra pessoa. Não é mais sobre depender de um "salvador" que vai chegar e mudar tudo de repente. Cheguei num ponto em que percebo que a solução não está fora de mim.

Eu olho para trás e vejo que, muitas vezes, eu esperei que outros me tirassem do caos interno. Coloquei expectativas em amores e pessoas, esperando que elas fossem a resposta para o vazio que sentia. E, por um tempo, isso funcionou. Mas com o tempo, percebi que não é justo, nem comigo, nem com o outro. A verdadeira transformação não acontece quando alguém entra na nossa vida para nos salvar. Ela acontece quando decidimos nos salvar.

Sigo em frente, sem esperar que algo ou alguém me tire de onde estou. Porque, no fundo, não é sobre ser salvo. É sobre caminhar, sentir o chão firme, encontrar sentido na jornada, mesmo sem as grandes reviravoltas que costumavam me mover.

Espero que isso faça sentido para você. Porque, para mim, faz!

Com carinho!"


Não é mais sobre esperar o inesperado ou ansiar por uma solução mágica. 
É sobre caminhar com as próprias pernas, sentir o peso do chão



sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Saudade virá, eu sei que sim

"Poesias e Devaneios", Nº 121

Saudade virá, eu sei que sim, 
Mas hoje não, ainda não chegou.
Vento no rosto, sopra, assim.
E o tempo, por ora, nem me tocou.

Ela virá, mas por enquanto, espero, 
Sem pressa, sem dor rodear. 
Cedo demais, e eu, sincero, 
Nem ao menos tentei, me preocupar.

Não ainda liguei, memórias distantes, 
Nem para os dias que já se foram. 
Hoje só os momentos, que são errantes, 
E não há, ainda espaços que choram.

Sei que a saudade virá, impiedosa, 
Trazendo consigo o peso do tempo. 
Mas por ora, a vida é leve e fogosa, 
E a ausência não rouba meu alento.

Então deixo que o tempo corra por mim,
A saudade virá, mas não cedo assim.
Hoje sou leve, sem pensar no fim,
E o coração, por ora, nem sempre diz "sim".


"Quem olha para o vento nunca semeará, 
e quem olha para as nuvens nunca colherá"




quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Carta: "Perdeu algo recentemente?"

"Cartas Perdidas", Nº 41


Blumenau/SC, 14 de março de 2002

"Boa noite, ou talvez bom dia. Não sei quando ou como você encontrará estas palavras, mas o que importa é que eu tente descrever o que sinto.

Escrevi estas linhas instantes após ter te visto. Dessa vez, você estava radiante, com um sorriso que parecia iluminar o universo. Isso torna ainda mais agoniante esconder o que sinto — é como tentar tampar o sol com uma peneira.

Não foi por acaso que inventei uma desculpa tão frágil para ir até a sua casa. O pretexto era devolver um documento — uma tarefa trivial e sem importância.

Você deve ter deixado o documento cair perto do meu trabalho. Mas o destino, com sua ironia cruel, não só me fez cruzar seu caminho como também me fez segurar algo que você havia perdido.

Você realmente acredita que fui lá apenas para entregar seu documento? Sério?

Ao te ver, senti como se eu me desfizesse em paixão. Foi quase impossível conter meus sentimentos, mas ao mesmo tempo, me senti leve, como uma pluma ao vento.

E quando perguntei: "Você por acaso perdeu algo recentemente?", o que eu realmente queria dizer era muito mais profundo, muito mais intenso do que essas palavras podem revelar.

No final, o que resta é a dura realidade de que essas palavras podem nunca alcançar você. O que sinto pode ser apenas um impulso passageiro, perdido no fluxo do tempo. E eu, no fim das contas, acabarei me dissipando também, como algo que o tempo não consegue manter. Se isso for o custo, então que assim seja. A verdade é que, no fundo, temo que a realidade acabará por apagar até as lembranças do que poderia ter sido."

"No final, o que sentimos pode se perder e ser esquecido com o tempo."



sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Carta: "A Vida de Uma Só Noite"

"Cartas Perdidas", Nº 40


Cianorte/PR, 10 de Setembro de 2003

"Quando te vi, já soube. Já sabia, era como se lhe conhecesse, como se fôssemos íntimos, do zero até meus trinta e alguns anos.

Ante a isso, voltemos algumas horas, ou dias, não sei ao certo, mas fácil sei que não foi. Procurar você, achar você, TER você. Não foi. Nunca tive de fato.

Talvez porque, no fundo, eu soubesse que você nunca seria, que éramos destinados a nos cruzar, a nos reconhecer, mas não a nos possuir. Esse sentimento de familiaridade, de pertencimento, era um reflexo do que poderia ter sido, uma vida paralela onde nossos caminhos se entrelaçaram desde o começo, mas que, nesta realidade, se limitou a um encontro tardio, cheio de anseios e frustrações.

Eu queria acreditar que bastava querer, bastava lutar, que o destino seria apenas uma questão de persistência. Mas o tempo, cruel como é, não espera por sonhos irrealizáveis. Ele segue seu curso, indiferente às nossas vontades, deixando-nos apenas com o eco do que poderia ter sido. E nesse eco, nessa distância entre o que sonhei e o que vivi, fica a amarga constatação: NUNCA tive você, e talvez seja melhor assim!

Porque, de alguma forma, você permanece idilicamente perfeita em minha mente, intocada pela realidade. Uma lembrança de algo puro e intangível, que a vida real jamais poderia corroer. 

No fundo, talvez eu sempre soubesse que o nosso "nós" estava destinado a ser assim, um eterno "quase", uma melancólica lembrança do que nunca foi.

E assim, sigo, na ilusão confortável de que, em algum lugar, em algum tempo, ainda SOMOS!"



Destinados a se encontrar, mas jamais a pertencer um ao outro.








quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Eu Me Apaixonei Pelo Brilho da Morte

"Poesias e Devaneios", Nº 120

Com duros golpes de marreta
Abri a caixa de Pandora,
E o brilho que ali se agita
Fez da curiosidade, senhora.

Tão belo pó, azul cintilante,
Como o belo céu em plena aurora,
O que parecia encanto radiante
Morte certeira que a todos devora!

Tocando mão nua, perigo sem saber,
A cidade dormia, lívida desprevenida,
Enquanto o veneno a se esconder
Corria nas veias, a vida perdida.

O pó virou praga, sem face, sem voz,
Levou consigo sorrisos e sonho,
No silêncio pesado, restamos sós,
Num lamento que até hoje componho.

Goiânia, marcada pela dor e agonia,
Com o pó que brilhou em seu seio,
A esperança murchou em um dia,
E no brilho azul, o derradeiro enleio.

Como a mariposa que busca a luz,
Mas o que pensei ser um golpe de sorte,
Foi o abraço frio que tudo seduz
Eu me apaixonei pelo brilho da morte!


"Eu Me Apaixonei Pelo Brilho da Morte" foi uma frase dita por Devair Alves Ferreira,
uma das vítimas do Acidente Radiológico de Goiânia, 
amplamente
c
onhecido como "acidente com o césio-137", ocorrido em 1987.









sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Suco de sofisma , Mel demagogia

"Poesias e Devaneios", Nº 119

Suco de sofisma,
Mel, demagogia.
Paz, sangra guerra,
Falso amor, só verte a dor!

Sorriso, disfarce frio,
Olhar, escuridão,
Abraços, me desvio,
A mente, contradição.

Toque é macio,
Mas fere como espinho,
Amor, doce vazio
Se perde em teu caminho

Abraço, suave laço,
Que aos poucos me desfaz,
Ilusão, sigo o traço,
De um amor que já não traz.

Suco de sofisma,
Mel, demagogia.
Paz, sangra guerra,
Falso amor, só verte a dor!


"Tu que viestes de longe, enfrentastes muitas batalhas, que derramaste
teu sangue por essas terras, numa terra imaginária ou real.
Tu que roubaste meu olhar de uma vez por todas."




domingo, 4 de agosto de 2024

Arrepende!

"Poesias e Devaneios", Nº 118

Arrepende!
E chora
Senta
Demora
Pensa
Enrola
Sofre
Esnoba

Arrepende!
E não liga
Aprende
E nega
Esquece
Tripudia
Duvida
Desengana

Arrepende!
E ausenta
Caminha
Corre
Para
Senta
Olha
Nega

Arrepende!
E sofre
Justifica
Argumenta
Responde
Não fala
Fala
Talvez fala
Emudece...


A flecha do tempo segue num só sentido...



quarta-feira, 31 de julho de 2024

Carta: "A última do Século"

"Cartas Perdidas", Nº 39 

São Paulo, 29 de dezembro de 1999

"Te amo tanto... 

Forma estranha de iniciar né? Mas consiste na verdade. Estamos em 1999, à beira de um novo milênio, mas ainda vivemos em uma era onde os seres humanos têm sentimentos. Ou, pelo menos, eu ainda tenho, eu creio ter!

Sei que hoje inexiste reciprocidade de sua parte, mas mesmo assim, senti a necessidade de lhe escrever. Já falei sobre isso para outras pessoas, mas agora estou lhe dizendo diretamente: nós combinamos totalmente em quase tudo. Só faltou aquele detalhe, fatores tão externos à nossas vidas rotineiras, tão distante... mas isso é algo inevitável.

Ainda penso em ti e há possibilidade de nunca deixar de pensar. Nunca mesmo. Cada momento, conversa, riso compartilhado, tudo permanece vivo em minha memória. Mesmo que nossos caminhos tenham se separado, o que sinto não mudou e nunca mudará.

Lembro-me de quando nos conhecemos, como tudo parecia tão perfeito. A maneira como você sorria, seu olhar iluminava o ambiente, nossas conversas fluíam naturalmente. Parecia que havíamos encontrado em cada um o complemento perfeito. A sintonia era inegável, e a conexão, profunda! E que conexão!

No entanto, a vida tem suas próprias formas de testar os laços, e no nosso caso, a política foi o obstáculo. É engraçado como algo tão externo pode impactar tão profundamente uma relação que, de outra forma, seria perfeita. Mas sei que cada discussão, cada desacordo, só reforçou o quanto nos importávamos um com o outro, mesmo quando estávamos em lados totalmente opostos.

Enquanto o novo milênio se aproxima, reflito sobre o que poderia ter. A distância e o tempo podem mudar muitas coisas, mas não podem apagar o que sentimos e vivemos. Sempre haverá um lugar especial em meu coração reservado para ti, independentemente do que o futuro traga.

Quero que saiba que te desejo tudo de melhor. Que você encontre felicidade, amor e realização em tudo o que fizer. E, quem sabe, nossos caminhos possam se cruzar novamente em algum ponto do futuro, talvez em circunstâncias muito diferentes, onde possamos redescobrir tudo que uma vez compartilhamos.

Com todo o meu carinho e amor"


"E, quem sabe, nossos caminhos possam se cruzar novamente em algum ponto do futuro,
talvez em circunstâncias muito diferentes..."



terça-feira, 23 de julho de 2024

Saudade única, Saudade Válida

"Poesias e Devaneios", Nº 117

Saudade única, saudade válida,
Que no peito sempre arde,
Tua presença era sólida,
Brisa de uma bela tarde

Noites calmas, teu sorriso,
Ecoa como canção,
No coração, paraíso,
Feito pura emoção.

Teus olhos cintilantes,
Iluminam o meu ser,
Em sonhos bem distantes,
Saudade fez doer.

Cada lembrança, um tesouro,
Guardado com devoção,
Teu nome, meu porto seguro,
És bela, minha paixão.

Mesmo na ausência, 
És, tanto, minha guia,
Saudade, encontro abrigo,
Teu coração, melodia

Saudade única, verdadeira,
Que no peito sempre arde,
Tua presença era inteira,
Brisa de uma bela tarde

Tua presença era inteira,
Brisa de uma bela tarde...



"Começou como terminou e terminou sem começar...Começou sem terminar e sem fim ficará."



segunda-feira, 22 de julho de 2024

Uma Noite de Renúncias

"Diálogos Efêmeros", Nº 4

Ela suspirou e interrompeu a fala dele com um olhar vazio, sem a menor vontade de prolongar a conversa. Ele, percebendo a frieza, afastou-se um pouco, sentindo a distância crescer entre eles. O silêncio pairou, carregado de ressentimento, com as mãos dos dois permanecendo imóveis, sem desejo ou carinho. Quando finalmente ela tomou coragem para falar, seus olhos evitavam os dele e disse:

_Acho que já não temos mais nada a dizer. Desde o momento em que percebi quem você realmente é, soube que nosso tempo juntos estava acabando. Não faz sentido prolongar essa dor.

Ele, com um amargo sorriso nos lábios, respondeu:

_Talvez você esteja certa. Sempre soube que havia algo errado entre nós, mas nunca imaginei que terminaria assim. Não quero mais prolongar essa agonia, esse desgaste.

Ela assentiu, as lágrimas que ameaçavam cair eram de frustração, não de emoção. Com a voz embargada pelo desânimo, ela completou:

_Quero que isso acabe logo. Estou cansada de tentar, de fingir que está tudo bem.

Ele, resignado, deu um último beijo em sua testa, mas sem ternura, apenas um gesto mecânico, e disse:

_Eu não te agradeço por nada disso. Tudo foi apenas hipocrisia e ilusão. Você é ilusão.

Ele virou as costas, então ela disse:

_Eu me arrependo de termos chegado a esse ponto. Não consigo ser como outrora, e nada voltará a ser como antes. Preciso seguir em frente sozinha.

Ele soltou um suspiro pesado, o coração apertado, mas sem a sensação de felicidade. Redarguiu, com uma voz firme:

_Farei o necessário para esquecer isso tudo. Não há mais amor, se é que houve algum dia, e quero deixar isso claro todos os dias da minha vida.

Ela virou as costas e foi embora, sem olhar para trás. Ele ficou ali, vendo-a se afastar, o coração carregado de um pouco de tristeza muito ressentimento, sabendo que aquilo era realmente o fim, ou talvez o começo...


Não há ninguém aqui, nunca houve!