quinta-feira, 6 de novembro de 2025

O Que Nunca Terei

"Poesias e Devaneios", Nº 154

Às vezes olho e vejo, o que nunca terei,
E sei — jamais, nem por um véu, terei.
Como a lua, distante, posso só mirar,
Brilho que toca, não posso alcançar.

Que penso ter, também me escapa,
Miragem em mares de capa.
Ter é sonho de reinos distantes,
De terras veladas, lendas errantes.

E nunca tive — sinal tão certo,
Que o nada é o mais encoberto.
Querer é inútil, promessa vazia,
Na alma só resta melancolia.

Sem nada ter, apenas sendo,
Sendo! Paz do vazio, compreendo.
Pois muito querer é tecer e perder,
E no fim, nem a si se poder ter.

Perder a si — perda completa,
Fim da estrada sublime secreta.
Quem busca demais, se desfaz, enfim!
E o que resta: o nada dentro de mim.

Às vezes olho e vejo, o que nunca terei,
E sei — jamais, nem por um véu, terei.
Como a lua, distante, posso só mirar,
Brilho que toca, não posso alcançar.



"Quando a alma parte em silêncio,
o que fica é apenas o eco do que fomos."



Um comentário:

  1. "Ter é sonho de reinos distantes,
    De terras veladas, lendas errantes.
    E nunca tive — sinal tão certo,
    Que o nada é o mais encoberto".

    O que fazer quando o "não ter" ainda te perturba e cansa nas noites mais frias e nos dias sem fim? Nunca houve nada que completasse, que finalizasse, ou simplesmente tivesse visto e sentido o ponto final daquilo tudo.
    São décadas de tortura (uma absurda falta de discernimento de si, confesso), e na procura infindável por resposta, só resta a esperança de outra vida...

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