Série "Reflexões Pessoais", Nº 4
Vale mais ser amado ou temido? O ideal mesmo é ser as duas
coisas, mas como é difícil reuni-las, é muito mais seguro - quando uma delas
tiver que faltar - ser temido do que amado.
Porque, dos homens em geral, se pode dizer o seguinte: que
são ingratos, volúveis, fingidos e dissimulados, fugidios ao perigo, ávidos do
ganho.
E enquanto lhes
fazeis bem, são todos vossos e oferecem-vos a família, os bens pessoais, a
vida, os descendentes, desde que a necessidade esteja bem longe. Mas quando ela
se avizinha, contra vós se revoltam.
E aquele príncipe que tiver confiado naquelas promessas,
como fundamento do ser poder, encontrando-se desprovido de outras precauções,
está perdido. É que as amizades que se adquirem através das riquezas, e não com
grandeza e nobreza de carácter, compram-se, mas não se pode contar com elas nos
momentos de adversidade.
Os homens sentem menos inibição em ofender alguém que se
faça amar do que outro que se faça temer, porque a amizade implica um vínculo
de obrigações, o qual, devido à maldade dos homens, em qualquer altura se
rompe, conforme as conveniências.
O temor, por seu turno, implica o medo de uma punição, que
nunca mais se extingue. No entanto, o príncipe deve fazer-se temer, de modo que,
senão conseguir obter a estima, também não concite o ódio.
(Nicolo Maquiavel, em 'O Príncipe')
Nicolo Maquiavel (Nicolau Maquiavel) sugeriu que um líder deseja um equilíbrio em temor e amor, mas como é difícil reuni-las, é mais seguro ser temido do que amado. Pesquisas apontam que quando julgamos líderes, avaliamos primeiramente duas características: se inspiram afeto (se são cordiais, participantes e dignos de confiança) ou se inspiram temor (se tem força, iniciativa ou competência).
As investigações sobre esse dilema mostraram que pessoas consideradas competentes, mas que são deficientes em afetividades, costumam despertar inveja nos outros, emoção que envolve respeito acrescido de ressentimento.
Por outro lado, aqueles que são vistos consideravelmente como muito simpáticos tendem a provocar piedade. Acredite, cerca de 90% das impressões que fazemos de indivíduos que julgamos como líderes pendem para um dos lados: afetividade ou força.
Liderança é influência. Para aqueles que estão iniciando sua trajetória, independentemente do papel que lhe seja atribuído, estudos têm mostrado que é melhor começar com a afetividade como um link para a influência, afinal ela permite a confiança e a comunicação. O poder da boa educação, simpatia e gentileza são alguns dos carros chefes neste aspecto.
Defendo a liderança principalmente dentro do lar. Muitos dizem que não existe manual para a paternidade/maternidade e essa expressão é apenas outro jeito de dizer que é muito difícil manter o equilíbrio entre controlar e liberar, abraçar e castigar, ser justo e misericordioso, demonstrar afeto e força, ser participativo e diretivo.
Quando os pais não se posicionam de maneira clara e constante no equilíbrio desses dilemas para com seus filhos, as crianças ficam confusas e tendem a não seguir as instruções. Em outras palavras, os pais perdem a sua influência. A educação dos filhos é, sem dúvida nenhuma, uma grande oportunidade para equilibrar amor e firmeza.
Gosto de pensar que devemos ser fortes e firmes em princípios e simpáticos com pessoas. Controlar através de leis e dar liberdade para vivê-las. Ser diretivo nos princípios e participativo na liberdade. Repreender com justiça e abraçar com misericórdia.
Uma analogia para esse dilema são as leis de trânsito, que nos permitem ir e vir com segurança e liberdade. Certa vez li que “Somos eternamente escravos de leis que nos tornam livres”. Pode parecer paradoxal, mas sem as leis de trânsito como poderíamos encontrar satisfação e alegria em nossos deslocamentos? Tudo seria muito confuso!
Algumas organizações estão como um trânsito sem leis. Há muita liberdade e pouco controle. Outras, por outro lado, são radicais e privam os indivíduos de escolher. Líderes tem a responsabilidade de criar uma atmosfera equilibrada para que a vida seja plena para todos.
Minha impressão é que o desafio da liderança repousa na maturidade mental, emocional e espiritual para saber quando e como exercer a influência de forma equilibrada. Sabedoria, neste sentido, significa nivelar as coisas para que exista paz.
E como anda sua organização? Em paz ou em guerra? E sua influência com líder? Pende para o liberal ou para o controlador? Se você têm trabalhado para equilibrar ambas e cumprir um propósito ou defender uma causa sua trajetória como líder, já está se desenvolvendo. Não só como líder, mas também leve isso para a sua vida pessoal.