terça-feira, 16 de outubro de 2018

Se apaga uma Estrela

Série "Reflexões Pessoais", Nº 42



A esquerda, representada pelo PT, que concentrou a representatividade para si até mesmo sabotando outros partidos e candidatos (Marina, Ciro, Cristovam, Heloisa), tá diminuindo e tendo essa derrota eleitoral e cultural acachapante justamente por não aceitar a verdade nua e crua dos fatos.

Conheço pouquíssimos esquerdistas que reconhecem isso mas a grande maioria simplesmente não quer admitir que o Bolsonaro é o produto final, o símbolo máximo da falta de diálogo, humildade e senso de noção política e social, acumulados por ANOS, que estouraram nesta eleição.

Vejo diversas pessoas postando no início da campanha eleitoral que a hora é de diálogo e união para evitar o extremista Bolsonaro.

Só que quando o PT estava por cima da carne seca, ninguém queria saber de diálogo algum! Eram só rótulos, demonização e xingamentos aos oponentes e eleitores deles. Era só sabotagem aos outros partidos de esquerda que tentaram se colocar como alternativa dentro da esquerda. Ao falhar, ganhavam migalhas sob a condição de subserviência ao todo-poderoso PT do deus Lula.

Agora, tenho que ler que "a verdade é que o brasileiro é escroto mas só agora encontrou voz". Quando esse brasileiro escroto estava votando no Lula e na Dilma, aí era tudo lindo, né? Eleitor consciente que reconhece toda a glória que o PT lhe concedeu. Eleitor politizado.

Agora virou todo mundo "fascista, racista e machista" enrustido.

E quem apanha nunca esquece!

Pelo menos desde 2010, essa estratégia do nós x eles se intensificou e foi se desgastando. Queimaram ofensas e rótulos nos inofensivos do PSDB e, principalmente, foram alimentando no eleitorado que votava contra o PT (Serra e Aécio) cada vez mais o sentimento de aversão. Porém, como tinham a maioria, estava tudo bem e quem fosse contra era elitista, entreguista, machista e fascista que devia ficar calado e aceita que dói menos.

Aí a violência urbana escalou, a crise bateu e a Dilma "pedalou". E veio a Lava Jato e o impeachment.

Uma oportunidade para um mea culpa, um ato de humildade de reconhecer que errou e errou feio, que a corrupção tomou conta, e que de agora em diante iriam expurgar os corrputos e "refundar" o partido. Mas não!

Tudo aquilo estava acontecendo porque você que está lendo não aguentou ver o pobre andando de avião nem o filho da empregada fazer faculdade, seu elitista de merda, e foi lá com o pato da FIESP tirar a primeira mulher presidente da república (porque, obviamente, você é machista) e ousa torcer para que o maior líder deste país seja preso, sem provas, num ato de fascismo (e você, por querer Lula preso, se torna um fascista, claro).

Mas a vida ainda dá muitas chances e chega a época eleitoral. O PT tinha a chance de dar um passo atrás, até num ato de inteligência, e deixar um outro candidato de esquerda na linha de frente (Marina ou Ciro) com menor rejeição e um discurso mais conciliador para o momento de crise. Só que não. A arrogância e incapacidade de pensar em não ser o protagonista impediram isso. 

E fizeram pior ao empurrar Lula como candidato que estava sendo perseguido pois ganharia a eleição e você, um fascista, racista, homofóbico e elitista, não suportaria ver de novo Lula dando direitos às minorias, contra os ricos e a favor dos pobres. Para isso, isolaram o Ciro e minaram qualquer tipo de apoio que ele pudesse ter para não ousar tirar parte que seja do protagonismo do PT.

O povo brasileiro é bem pacífico, tem doses de paciência cavalares e tolera bastante coisa porque, para viver no Brasil, "ir levando" é uma skill que cada um de nós tem que ter inata. Mas o PT conseguiu com isso tudo ao longo dos anos emputecer o Seu Tião da borracharia, a Dona Maria da padaria, a Sílvia que pega ônibus lotado para trabalhar no comércio, o José caminhoneiro, gente que sempre "se virou" independente da crise do país.

E aí nasce o Bolsonaro. Sim, Jair Messias Bolsonaro, deputado federal com pautas militares e de moral conservadora já integrava o Congresso há anos mas era ali um homem comum. Um deputado como outros que já passaram pelo Congresso, um virtual invisível para 90% da população.

Mas, por força do acaso até (como muitas coisas na história), começou a ganhar destaque (grande parte em razão da patrulha de opinião da esquerda, que deu mídia e palanque) no lugar certo e na hora certa para receber todo o sentimento de revolta acumulado de todas as pessoas que o PT saturou os nervos ao longo de pelo menos 8 anos.

E, receber esse estado de espírito do brasileiro lhe tornou imune às "caneladas" que ele e a equipe dão, à falta de detalhamento de pontos do plano de governo, a frases bem polêmicas do passado, defeitos numa campanha governamental que geralmente custam uma eleição.

Mas o povo tá pouco se fodendo pra isso. E quem do PT (como o PT concentrou o discurso da esquerda com anuência dos esquerdistas, afinal quando estava tudo bem ninguém dizia que "o PT não representa a esquerda toda", entra todo mundo aí) vier pedir voto, união para evitar o "pior", pregar diálogo a esta altura, depois de no mínimo 8 anos que podia ter diálogo, o povo já tem a frase na ponta da língua:

Agora, com a derrota iminente (e de forma até categórica) até a esquerda adjacente abandonou o barco e enfim está demonstrando o sentimento de rejeição que sentia medo de demonstrar nos idos em que Lula sonhava com o nobel da paz.

E o "emputecimento" do povo transbordou e não só atingiu o PT mas todos os partidos tradicionais em especial o PSDB, que foi condenado pelo tribunal popular pelo crime de omissão e subserviência ao PT nas "lutas de luva de pelica" pra inglês ver. O PT ainda se segura por um fio graças ao nordeste mas o PSDB foi literalmente pulverizado em 2018, sendo rebaixado ao patamar de partido médio e não vou me surpreender se, caso não haja também uma reinvenção, em 2022 fique pesadamente ameaçado pela cláusula de barreira.

Bolsonaro eleito possuirá uma responsabilidade maior do que um homem comum possui, pelas circunstâncias que o levarão à Presidência. Ele também que trate de jamais esquecer o que o levará à rampa do Planalto.

Quanto à esquerda, o tempo dirá se eles saberão se reinventar. Por mais críticas que eu tenho, é importante que a esquerda não seja minúscula como a direita foi até agora, até para o bem da direita não se acomodar (como o PT se acomodou ao poder, sem oposição que prestasse). E que os esquerdistas (e aqui coloco muitos colegas e amigos) tenham o pingo de humildade e revejam esse senso de virtude absoluta do discurso, procurando aprender o que o povo comum pensa e quer sem impôr rótulos e julgamentos.


A Estrela morreu.

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